quinta-feira, 25 de agosto de 2011

SOLARES E QUINTAS DO CONCELHO DE ESPOSENDE


Por: Manuel Albino Penteado Neiva

II
QUINTA DE TERROSO
- Palmeira de Faro -



Fachada principal da Casa de Terroso
A Quinta de Terroso ou Cimo de Vila - foi também conhecida por Casa de Mareces. Esta última designação advém do facto da família que a edificou, ou reedificou, ser oriunda do lugar de Mareces, Freguesia de Vila Cova - Barcelos.
O arquivo particular da Quinta de Terroso é um interessante somatório de documentos - na sua maioria transmitindo registos de família, tipo árvore genealógica, e da própria mobilidade fundiária de família[1].
Poder-se-à dizer que o Rev. Padre Francisco Gonçalves, nascido por volta de 1590[2], fundador da Casa da Capela, em Vila Cova, terá sido um dos ascendentes da família que instituiu a Quinta de Terroso.
Este sacerdote terá, por volta de 1616-1618, comprado um conjunto de propriedades localizadas no lugar de Terroso em Palmeira de Faro. Curiosamente, e segundo a opinião e o estudo atento de Silvestre Matos Costa, o P.e Francisco Gonçalves, teve um filho, de nome João Linhares, cuja mãe era natural de Fão, chamando-se Isabel Antónia. Embora filho bastardo, o P.e Francisco solicitou a sua legitimação que, por Mercê do Rei D. Filipe III (Filipe II de Espanha), datada de 14 de Novembro de 1634[3], lhe foi concedida.
Este sacerdote veio a falecer em Mareces, Vila Cova, no dia 6 de Dezembro de 1662.
Uma sua neta, Esperança de Linhares, casou, por volta de 1670, com Manuel Ferreira, natural da Vila de Esposende, tendo sido mãe de oito filhos. O património da família foi, entretanto, enriquecido, por volta de 1735, através de uma série de emprazamentos que Manuel Ferreira fez em Palmeira de Faro, nomeadamente o Casal de Terroso. Um dos seus filhos, Bacharel em Cânones, pela Universidade de Coimbra, residiu maior parte da sua vida na Casa de Mareces, dando grande impulso às terras que possuía em Terroso -Palmeira. Ai comprou alguns edifícios que estavam em ruína.
Sabe-se, através de documentos estudados, que os descendentes de Manuel Ferreira passaram a viver em Esposende, tendo ocupado vários cargos da governança, nomeadamente o de Escrivães da Câmara e o de Juízes dos Órfãos.
Um dos seus familiares, de nome Caetano José, nascido em 1729, e oriundo de parentes naturais de Deocriste, ordenou-se Padre e veio, durante 43 anos, paroquiar Palmeira de Faro. Aí morreu em 22 de Julho de 1797. Com ele vieram residir para Palmeira, vários familiares que aqui compraram casas e propriedades. Segundo Silvestre Matos Costa, um irmão deste sacerdote, de nome António José, morreu em Maio de 1809, na freguesia de Palmeira, em combate contra os franceses aquando a segunda invasão. Uma outra irmã - Rosa Maria, casou, em 16 de Fevereiro de 1789, com António José dos Santos Portela, nascido em Gemeses.
António José – que ficará conhecido por “Capitão de Mareces” , ocupou funções nas Milícias da 5ª Companhia do Regimento de Barcelos. Faleceu em 23 de Dezembro de 1831 e sua esposa Rosa Maria viera a falecer mais tarde, em 9 de Setembro de 1937. Seu filho mais velho, José Joaquim dos Santos Portela, casou com Ana Rosa Lima, da família do “Cuco” de Palmeira, e aí fixaram residência.
Em 1838 restauraram a Casa de Terroso e aí passou a residir permanentemente[4]. Foi desta forma que a Casa e Quinta de Terroso também se passou a designar por Casa de Mareces.
Em 3 de Agosto de 1814, José Joaquim Santos Portela, é nomeado Alferes numa das Companhias do Regimento de Milícias de Barcelos[5].
O herdeiro da Casa de Terroso foi o seu filho João Vitorino, casado com Ana Joaquina Barbosa, proprietária da Casa das Eiras, em Gemeses. Um dos seus filhos, Bernardino dos Santos Portela, ordenou-se Padre, tendo sido Reitor durante alguns anos de Apúlia, foi o herdeiro da Quinta de Terroso onde passou o resto da sua vida. É este sacerdote quem manda construir a Capela, precisamente ao lado da Casa, que é benzida em 1902. Dedica-a a Nossa Senhora de Lurdes. Este Sacerdote sempre denotou ser uma pessoa devotada aos aspectos culturais e como prova disso, e também para Memorial do Convento, levantou em frente à sua Quinta um conjunto de elementos românicos que vieram do extinto e degradado Mosteiro de Banho de Vila Cova[6]. É Autor de uma interessante Monografia sobre este mesmo Mosteiro[7].
Na padieira do portão de entrada, lateral norte da casa, mandou pintar em azulejos a seguinte inscrição: “ ECCE ELONGAVI. FUGIENS. ET. MANSI. IN. SOLIDUTINE. “
Memória do românico do Mosteiro de Banho
Ainda sobre o Mosteiro de Banho, o Rev. P.e Bernardino, pediu, em 14 de Junho de 1927, ao seu primo Albino Cândido Alves de Matos, de Vila Cova, que lhe facultasse a documentação sobre este monumento românico. Tal foi-lhe concedida, não nos tendo sido possível indagar sobre o seu paradeiro final.
O Padre Bernardino dos Santos Portela faleceu, nesta Casa de Terroso, em 5 de Janeiro de 1941.
Tomou posse da Casa de Terroso, João Martins Gomes dos Santos, falecido em Janeiro de 1986, tendo sido, por sua morte, herdada por José Filipe Pinheiro Gomes dos Santos.
Em 1994, por compra, quebrando-se um vínculo de família mais que secular, passou para a posse de Alberto Queiroga Figueiredo[8], industrial, natural de Apúlia.


[1] - A ocupação do solo onde se situa a Quinta de Terroso, é uma constante que vem já desde, pelo menos há 5000 anos. Aí se construiu uma monumental sepultura dolménica, recentemente estudada pelo Grupo de Arqueologia do Norte, chefiado pelo investigador Eduardo Jorge, Professor da Universidade Portucalense. Das escavações resultaram vários objectos de grande interesse científico, entre os quais um esteio possuindo pinturas rupestres, a branco, representando um animal da família dos cervídeos.
Também durante a época romana aí se sepultaram alguns íncolas, em sepulturas construídas à base de ardósia. Por volta de 1940, algumas delas foram postas a descoberto, tendo sido retirados alguns vasos de incineração que, segundo informações, terão sido levados para Lisboa.
Mais tarde, estas terras foram demarcadas pela poderosa Casa de Bragança. Na parte Norte da Quinta ainda se pode encontrar um dos marcos desta senhorial casa, aí colocado a mando de D. Jaime, Duque de Bragança.
[2] - Silvestre Matos Costa - Famílias da Casa da Capela: Vila Cova, Barcelos.
[3] - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - Chancelaria de D. Filipe III - Legitimações, Livro 22.
[4] - Teotónio da Fonseca - Esposende e o seu Concelho, Esposende, 1936.
[5] - A.H.M. - 3º Div., 39º Sec. Cx. 22, Doc. Nº 38
[6]- J. Mancelos Sampaio e Augusto Soucassaux - Barcelos: Resenha Histórica-Pitoresca-Artística, Barcelos, 1927
[7] - Este trabalho foi publicado no Jornal “Diário do Minho”.
[8] - Alberto Queiroga Figueiredo foi Presidente da Câmara Municipal de Esposende, Deputado na Assembleia da República e Presidente da Assembleia Municipal de Esposende.

Nenhum comentário:

Postar um comentário