quinta-feira, 25 de agosto de 2011

SOLARES E QUINTAS DO CONCELHO DE ESPOSENDE

 Por: Manuel Albino Penteado Neiva

QUINTA DA SEARA
- Palmeira de Faro -


 
Vista geral da quinta da Seara
Esta Quinta pertenceu a José Cézar de Faria Vivas, filho do Capitão-Mór das Ordenanças de Esposende, Custódio José de Faria Vivas e de D. Maria do Rosário de Vila Boas Pereira[1].
José Cézar de Faria Vivas foi, tal como seu pai, nomeado Capitão-Mór das Ordenanças, tendo sido o último a exercer este cargo em terras de Esposende, o que o fez entre 13 de Março de 1809 e 6 de Maio de 1834.
Casou em Palmeira de Faro, em 14 de Setembro de 1825, com D. Antónia Margarida de Faria Vivas Freire de Andrade, passando a viver, temporariamente, na sua Quinta da Seara, em Palmeira de Faro[2]. Refira-se que a sua esposa era, também, sua sobrinha, filha de sua irmã D. Ana Margarida de Faria Vivas de Vilas Boas Pereira e do Capitão de Artilharia António Basílio de Faria Freire de Andrade de Azevedo e Araújo.
Se é difícil saber a data de nascimento de José Cézar, a sua esposa nasce em Esposende em 3 de Abril de 1808 e faleceu, também nesta cidade, em 30 de Maio de 1881[3].
Sabemos, por leitura de documentos fidedignos, de que a Quinta da Seara vinha como herança de família, do ramo de sua mãe, D. Maria do Rosário de Vilas Boas Pereira, que possuía, também, a Casa da Praça, em frente à Câmara Municipal de Esposende, assim como abastadas terras por todo o concelho de Esposende[4]. Da sua família era, ainda, Manuel Machado de Miranda Pereira Vilas Boas, Capitão-Mór de Esposende, cargo que ocupou de 1729 a 1731, Senhor da Quinta da Barca, ao qual foi passada Carta de Brasão em 12 de Novembro de 1743[5].
Como já dissemos, José Cézar, Senhor da Quinta da Seara, fora nomeado para o cargo de Capitão-Mór em 13 de Março de 1809, em plena 2ª Invasão Francesa a Portugal, comandada pelo General Soult. Dado que Esposende foi palco de movimentações das tropas napoleónicas, chegando a haver pequenas escaramuças em Palmeira de Faro, mesmo junto à Quinta da Seara[6], é lógico que este terá sido um período muito atribulado para o Morgado e Senhor da Seara.
Solar da Quinta da Seara
Aquando a Revolução Liberal de 1820, constituiu-se a primeira Câmara Constitucional em Esposende, tendo sido nomeado para seu Presidente José Cézar de Faria Vivas. Pouco tempo depois, e face às acusações dos seus adversários políticos, inicia uma guerra partidária que o vai, pouco a pouco desmotivar na luta pelo progresso de Esposende.
Manifesta-se anti-Miguelista, a controvérsia aumenta e, desanimado, embora sem deixar a Presidência da Câmara, refugia-se no sossego da sua Quinta da Seara.
Segundo palavras de João do Minho[7], em 5 de Junho de 1823, José Cézar de Faria Vivas aclama solenemente D. João VI, como Rei Absoluto. Em 6 de Abril de 1829 recebe autorização, através de Despacho Real assinado pelo Monarca D. Miguel, para “usar uma efígie do Rei, pendente ao peito, por uma fita de cor do laço português “.
Durante a Guerra Civil de 1829-1834, o Capitão Mór José Cézar foi encarregado “ do estabelecimento e comando da linha litoral de Fachos, desde Vila do Conde até Caminha, e Comandante Interino da 5ª e 8ª Brigada de Ordenanças[8].
Findo o período conturbado das guerras liberais, mormente a derrota dos Miguelistas, José Cézar de Faria Vivas vê-se “deportado para o exílio” em Caldelas, concelho de Amares onde, segundo informações do Juiz desse concelho, sempre teve “ um comportamento honrado “.
Em 1834 regressa definitivamente à sua Quinta da Seara, tendo falecido em 7 de Setembro de 1855.
Porque estava instituído o morgadio da Seara, torna-se seu Morgado e proprietário o seu filho José Maria Cézar, que viria a morrer solteiro, em Amares, no ano de 1900.
Desde início do século XX que esta Quinta passou para a Propriedade da família Barros Lima. Estando na posse do Dr. Artur Barros Lima, eminente Notário e Advogado, em 1929.
Curiosamente, num jornal de Esposende[9] escrevia-se que o Dr. Barros Lima, regressado da cidade da Beira, iria passar umas “reconfortantes” férias “… na sua linda vivenda da Seara, onde amontoa, com gosto e arte, esplêndidas colecções de lindos objectos orientais “.
Em meados deste século, de novo, esta Quinta da Seara passa a ter novo proprietário, desta vez o Ilustre Médico Cirurgião Dr. Queirós de Faria que, promove o plantio de castas de vinho verde, transformando o vinho “Monte Faro”, num dos bons vinhos de quinta da Região dos Vinhos Verdes. Por venda da família Queirós de Faria esta quinta passa à propriedade da família Martins, da cidade do Porto, que a transforma numa quinta pedagógica para fins turísticos.


[1] - Sobre este assunto ver:
     JOÃO DO MINHO – O último Capitão-Mór das Ordenanças de Esposende e outros conterrâneos do   
     seu tempo, Esposende, 1972.
[2] - FONSECA, Teotónio da – Espozende e o seu concelho, Esposende, 1936.
[3] - JOÃO DO MINHO – Op. Cit. – Pág. 86
[4] - Temos em mão um estudo sobre Vila Chã, em cujos documentos referem as terras desta família
     nesta aldeia, em estudo.
[5] - NÓBREGA, Artur Vaz Osório da – Pedras de Armas e Armas Tumulares do Distrito de Braga:  
     Heráldica, Vol. VI, Braga, 1977
[6] - Quase em frente a esta Quinta, situa-se a pequena Capela do Senhor dos Desamparados, mandada
     construir para cumprimento de uma promessa que tinha a ver com as escaramuças entre habitantes
     desta freguesia de Palmeira de Faro, com os soldados franceses.
[7] - João do Minho é o pseudónimo do Eng. Oliveira Martins.
[8] - Regimento dos Fachos de 1831 e outras circulares anexas.
[9] - O ESPOZENDENSE de 6 de Abril de 1929





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