quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SOLARES E QUINTAS DO CONCELHO DE ESPOSENDE - IV


 Por: Manuel Albino Penteado Neiva

IV 

QUINTA DA CALÇA EM FORJÃES



A Família que instituiu esta Quinta é muito antiga.
Vista Geral da Quinta da Calça
Sabe-se que teve origem em Inês Annes da Costa que em 1509 instituiu o vínculo de São Francisco, em Barcelos.
Vivia na Casa dos Costa Chaves, situada na antiga Rua dos Açougues, mais tarde rua do Terreiro e hoje Duques de Bragança.
Terá sido seu irmão Fernão Annes da Costa, Secretário do Duque de Bragança, D. Fernando, quem mandou fazer o Oratório de São Francisco, situado na rua dos Mercadores, em Barcelos. Tudo isto acontece no século XVI.
A Casa dos Costa Chaves sofreu, durante o século XIX (1869) várias alterações, obras de beneficiação, mandadas fazer pelo Comendador António de Mendanha Arriscado[1].
Mas vejamos a ascendência da Família da Quinta da Calça.
Diogo da Costa, filho de Aires Gonçalves da Costa, Almoxarife da Vila de Barcelos e de sua mulher Filipa Fernandes, foi o 1º Morgado de São Francisco. Quem o nomeou foi precisamente sua Tia Paterna Inês Annes da Costa. Este Diogo da Costa foi Juiz Ordinário da Vila de Barcelos e a 20 de Dezembro de 1504 “ fez o Auto da Aparição da 1ª Cruz “[2]. Casou com Isabel Almeida mas deste casamento não houve descendência. Fizeram Escritura em 16 de Agosto de 1518 e anexaram os seus bens ao vínculo de S. Francisco. Sucedeu-lhe seu Sobrinho, Mendo da Costa, que era filho de Pedro da Costa Chaves, Escudeiro- Fidalgo, e de sua mulher D. Cecília Mendes de Vasconcelos. Foi o 2º Morgado de S. Francisco.
Teve demandas com seu Primo Manuel da Costa Botelho, filho de seu tio Gil da Costa, Prior da Colegiada de Barcelos [3] e Capelão da Casa Real.
Pedro da Costa Chaves, morreu solteiro, sucedendo-lhe como 3º Morgado, seu irmão Francisco da Costa Chaves que foi, também, Cavaleiro-Fidalgo. Casou com Mécia Pinhel mas não tiveram geração. Fizeram testamento em 27 de Fevereiro de 1549, sucedendo-lhe como 4º Morgado de S. Francisco seu irmão António da Costa Chaves. Foi Escudeiro-Fidalgo e casou em Bastuço com Catarina Felgueiras de quem teve um filho que morrera ainda em vida de seu pai, e uma filha, Filipa Mendes que casou com André Cavalo da Silveira.
Dado que a transmissão do vínculo de S. Francisco era por linha masculina, sua filha não o pode herdar e este passou para o seu Primo Manuel da Costa Botelho, filho bastardo e legitimado por seu pai, Gil da Costa, já referido anteriormente, e de sua amiga Mariana Botelho, de Vila Real. Este Manuel Gil Botelho foi, então, o 5º Morgado de S. Francisco. Foi Cavaleiro-Fidalgo, Comendador da Ordem de Cristo, na Comenda de Alegrete. Casou, com escritura datada de 2 de Maio de 1526, em Salamanca, com D. Constança Ruana, filha de Rodrigo Roano, Escrivão Público do Número de Salamanca e sobrinho do Secretário do Rei de Espanha, D. Fernando – o Católico.
Sucedeu-lhe no vínculo seu filho Fernão da Costa Chaves, que passou a ser o 6º Morgado, aquando a morte de seu pai. Casou com D. Isabel de Carvalho, natural da Vila de Guimarães. Sucedeu-lhe seu filho primogénito, Manuel da Costa Carvalho, 7º Morgado de São Francisco. Também este recebeu o estatuto de Cavaleiro-Fidalgo e fez testamento em 24 de Março de 1628, tendo morrido pouco depois. Casou com D. Jerónima Pinheiro, natural de Barcelos, filha do Dr. Gonçalo Fernandes da Rua e de sua mulher D. Catarina Pinheiro, moradores em Barcelos.
Sucedeu-lhe seu filho Fernão da Costa Carvalho – 8º Morgado, que foi Cavaleiro do Hábito de Cristo e ficou solteiro, falecendo em 1 de Abril de 1664, na sua Casa da Rua dos Açougues. Está sepultado na Capela de S. Francisco, em Barcelos.
Neste vínculo e como 9º Morgado, sucedeu-lhe seu irmão Francisco Pinheiro de Carvalho, Licenciado. Foi Cavaleiro de S. Bento de Aviz e morou, durante alguns anos, na sua Quinta de Casal de Nil, em S. Martinho de Vila Frescaínha, onde faleceu em 1692. Casou com D. Joana de Andrade do Vale, já viúva de Rui Borges de Lousada, natural de Guimarães.
Sucedeu-lhe seu filho Frei Manuel da Costa Carvalho, baptizado em 1641, em Barcelos, recebendo o título de 10º Morgado de S. Francisco. Foi, também,. Cavaleiro do Hábito de Cristo. Fez testamento em 20 de Setembro de 1715, tendo este sido aberto em 9 de Setembro de 1729. Foi casado, embora não tenha deixado geração, com D. Antónia de Barros da Cunha, natural da Casa das Neves, em Vila de Punhe – Viana do Castelo. Era filha de Miguel de Barros Rego e de sua mulher D. Tomásia da Rocha.
Sucedeu-lhe seu filho natural, reconhecido no seu testamento, e legitimado por El-Rei, e nomeado no mesmo vínculo como 11º Morgado de S. Francisco e 1º Morgado do Casal de Nil, André da Costa Carvalho Pinheiro Chaves, que era filho de Francisca Antónia, natural de S. Martinho de Vila Frescaínha. Foi Cavaleiro da Ordem de Cristo e Familiar do Santo Ofício. Falecera em 21 de Outubro de 1756. Casou a 13 de Julho de 1707, em S. Martinho de Vila Frescaínha, com sua prima, D. Joana Luísa de Andrade Borges de Vasconcelos Pereira de Azevedo.
Nos vínculos de S. Francisco e de Casal de Nil, e como 12º Morgado e 2º Morgado, respectivamente, sucedeu-lhe seu filho Manuel da Costa Carvalho Borges de Vasconcelos. Foi, como seu Pai, Familiar do Santo Ofício e Cavaleiro da Ordem de Cristo. Casou a 11 de Agosto de 1751, na Igreja de S.ta Eulália de Rio Côvo (Barcelos) com D. Maria Isabel de Mendanha Benevides Cyrne, natural de São João do Souto, Braga. Morreu a 1 de Junho de 1784.
Deste casamento nasceram 4 filhos, tendo sido seu sucessor no vínculo como 13º Morgado de S. Francisco José da Costa Carvalho de Mendanha e Vasconcelos, nascido a 7 de Outubro de 1754, na Casa dos Costa Chaves, em Barcelos. Foi Tenente-Coronel de Milícias de Barcelos, condecorado com a Cruz Militar de 2ª Classe, pelos serviços prestados na Guerra Peninsular. Faleceu, na sua Quinta de Casal de Nil, em 1829, sem deixar herdeiros, apesar de ter tido um filho bastardo, não reconhecido, de nome Manuel Joaquim da Costa Mendanha. Deixou como seu herdeiro e sucessor, seu sobrinho António da Costa Mendanha Pereira de Vasconcelos que nascera a 6 de Junho de 1796, na QUINTA DA CALÇA, em Forjães, concelho de Esposende, passando a ser este o 14º Morgado de S. Francisco e 4º de Casal de Nil. Era filho do Dr. Henrique Manuel de Mendanha da Costa Benevides Cyrne (1757-1808), formado em Leis pela Universidade de Coimbra. Foi Desembargador e Provedor da Comarca de Guimarães, Corregedor no Bairro Alto, em Lisboa, e, também, Desembargador na Relação do Porto, cidade onde faleceu em 1808. Foi casado com D. Maria Rosa da Silveira Barradas e Arce, natural de Lisboa.
Voltando ao 14º Morgado de S. Francisco, este viveu e faleceu solteiro, na sua casa dos Costa Chaves. Faleceu a 23 de Fevereiro de 1863, fazendo testamento a favor de seu primo, o Comendador António de Mendanha Arriscado. Acontece, porém, que seu irmão, o Dr. Ayres de Mendanha da Costa Benevides Cyrne, contestou o testamento e ganhando a contenda passou a usufruir dos seus bens e direitos desta casa vincular dos Costa Chaves, passando este a ser o 15º Morgado.
António de Mendanha Arriscado
António de Mendanha Arriscado que nascera a 14 de Janeiro de 1815, na Quinta dos Mendanhas, em S. Tiago de Aldreu (Barcelos), era filho de António de Mendanha Benevides Cyrne e de sua mulher e prima Maria Rita Arriscado de Mendanha Lacerda e Meneses.
Foi o 16º e último Morgado de S. Francisco pois, em vida, foi extinto esse vínculo e morgadio. Foi senhor de várias terras, entre elas a QUINTA DA CALÇA, em Forjães (Esposende) e da Quinta dos Mendanhas, em Aldreu (Barcelos). Foi Cavaleiro-Fidalgo da Casa Real, por Alvará de 25 de Julho de 1862, Comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa (em 1865) e Benfeitor do Asilo da Santa Casa da Misericórdia de Barcelos (1874) em cuja Galeria existe um interessante retrato a óleo da sua pessoa.
Veio a falecer, solteiro, a 15 de Setembro de 1890, em Apúlia (Esposende) com 76 anos, sendo sepultado no jazigo de família, no Cemitério de Barcelos. Fez testamento a favor do seu sobrinho-neto, Arnaldo Pinto de Mendanha Arriscado Falcão Cota de Bourbon que nasceu a 26 de Outubro de 1878, na Freguesia de São João do Souto (Braga). Foi herdeiro de todos os bens que pertenciam a seu Tio-Avô. Foi Professor de Ensino Livre e viveu em Braga, na sua Quinta do Bárrio, em Roriz, onde morreu a 28 de Janeiro de 1944. Casara em 26 de Fevereiro de 1900, nos Arcos de Val-de-vez, com a sua prima e co-irmã, D. Maria de Madre Deus Barbosa Falcão de Azevedo e Meneses.
Praticamente foi este quem vendeu os bens que , desde há séculos, vinham a passar de geração em geração, mantendo unido o vínculo e o Morgadia de S. Francisco.
João de Mendanha Ferraz, senhor da Casa dos Mendanhas Benevides Cyrne[4], de Barcelos, casou em 8 de Novembro de 1645, em Aldreu, com D. Leonor de Almeida, senhora da Quinta de S. Tiago (de Aldreu), filha de Sebastião Ribeiro Pinto e de sua mulher D. Guiomar de Almeida (falecida a 10 de Março de 1660). Tiveram 4 filhos, todos nascidos na sua Casa de Aldreu.
Curiosamente, depois de viúvo, João de Mendanha Ferraz ordenou-se padre.
António de Mendanha Benevides Cyrne nascera a 26 de Julho de 1767, na rua dos Carvalhos, em Barcelos, tendo-se habilitado a Ordens por Inquirição de Génere de 31 de Agosto de 1785 [5], não chegando, no entanto, a ser ordenado sacerdote.
Casou em 28 de Novembro de 1811, no Oratório da sua QUINTA DA CALÇA, em Forjães (Esposende), com sua prima D. Maria Rita Arriscado de Mendanha Lacerda e Meneses[6], nascida a 3 de Maio de 1784, na Casa da Quinta do Bárrio, em Roriz. Era filha de Manuel Arriscado de Lacerda, senhor da respectiva Casa de Bárrio e da Casa dos Mendanhas, na rua do Terreiro, em Barcelos.
Tiveram 5 filhos[7]
Foi Vereador da Câmara de Barcelos (1805 – 1832).
A Quinta da Calça passou da Família Mendanha para Fernando Barreto Formigal, natural das Neves (Viana do Castelo), casado mas sem filhos.
Era essencialmente uma Quinta de férias e, por promessa de venda deste, no ano de 1974 [8]  passou para António Champalimau. Este adquiriu-a no sentido de a transformar em pólo turístico, de apoio ao Hotel Ofir.
Em 1976 a Quinta da Calça foi adquirida por David Tomás.


[1] - TRIGUEIROS, António Júlio Limpo, e outros – Barcelos Histórico Monumental e Artístico, ed. APPACDM, Braga, 1998
[2] - Episódio que se relaciona com a lenda da Festa das Cruzes em Barcelos e ligado à construção do Templo do Senhor da Cruz.
[3] - Foi este Prior quem mandou edificar a Matriz de Barcelos, e, 1504, conforme se lê na inscrição “M.F.GIL DA COSTA”
[4] - Hoje restaurada para Museu de Olaria.
[5] - A . D. B. – Inquirições de Génere, Proc. 8650, Pasta 395
[6] - Como era sua prima foi pedida dispensa no 3º e 4º graus de consanguinidade.
[7] - Foram eles:
-          Manuel de Mendanha Cyrne Arriscado de Lacerda ( n. em 1813)
-          António de Mendanha Arriscado
-          Ana Ricardina de Mendanha Arriscado ( n. em 1818) na Quinta da Calça , em Forjães.
-          Francisco de Mendanha Arriscado ( n. 22 de Outubro de 1811), também na Quinta da Calça.
-          Maria José de Mendanha (n. 1822) na Quinta de S. Tiago, em Aldreu.
[8] - Ver notícia saída em “Comércio do Porto”

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