quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O CAMINHO DE SANTIAGO NO CONCELHO DE ESPOSENDE - UM CORREDOR CULTURAL –


Por: Manuel Albino Penteado Neiva

V
PASSAGEM DO RIO NEIVA

Casa Barão de Maracaná
Vestígios da Capela de Santo Amador
Entramos pela Rua Barão de Maracaná. Esta Rua vai decalcar a antiga Estrada da Romana que ladeava os muros do Solar de Belinho[1], ainda hoje em terra batida. Nos muros desta quinta, encontramos um memorial da extinta Capela de Santo Amador[2]. Como memória, nesse local, ficaram os topónimos de bouça e cruz de Santo Amador. Segundo alguns autores, terá sido fundada em 1549 por Diogo Barbosa e sua mulher Margarida Fagundes, moradores em Viana do Castelo. A sua destruição aconteceu por volta de 1681 e na base da Cruz existente regista-se a data de 1678. Curiosamente Santo Amaro ou Amadur (Amadour) associa-se, em Portugal, ao patronato de Hospitais e Albergues para peregrinos. Aliás os dois grandes Albergues/ Hospitais de Lisboa do tempo de D. Manuel eram o de Rocamador e o de Palmeiros.
Ao final desta rua, entroncamos na Rua Padre Apolinário Rios (Estrada Municipal 546 que liga Antas a Forjães). Nesse ponto, em frente, ergue-se a Capela de Nossa Senhora dos Remédios. Foi fundada em finais do século XVI (1590) pelo P.e António Dias, de Belinho. Em alguma documentação aparece designada como Capela de Nossa Senhora da Piedade e claramente relacionada com o flagelo das epidemias de quinhentos.
Viremos à esquerda na Rua P.e Apolinário Rios.
Alguns metros à frente, do lado direito, encontra-se o Cruzeiro da S.ra dos Remédios. Numa base de quatro degraus, assenta o plinto rectangular, com faces molduradas. Dele arranca o fuste cilíndrico que é rematado por um capitel vegetalista. A encimá-lo uma cruz simples. No plinto inscreve-se a data de 1898.
Travessa do Ferreiro
Continuando este arruamento, vira-se à direita na Travessa do Ferreiro. Segundo a tradição neste local existiu, outrora uma oficina ligada à actividade de ferraria, o que comprova ser um local de passagem muito frequentado.
A Travessa do Ferreiro termina na Rua 25 de Abril (Estrada Nacional 13 que liga Porto a Viana). Nesse ponto, e atravessando a N. 13, em frente, tomar a Rua da Carvalha em direcção ao Rio Neiva. O início desta rua apresenta uma série de casas antigas de arquitectura muito interessante.
Carvalha
Na margem esquerda do Rio Neiva, próximo à Azenha da Carvalha, já mencionada em documentação de 1880, existiu a Ponte Velha. Nas memórias Paroquiais de 1758 diz-se que “… entre S. Paio de Antas e o Castelo de Neiva existia uma ponte em cantaria de um só arco que ligava a estrada de Viana ao Porto … a ponte a seguir, para montante era a de Fragoso”. Neste mesmo local foram esculpidas num rochedo umas alminhas, conhecidas pelas Alminhas da Ponte Velha.
Esta passagem é referida na Crónica de D. Fernão Lopes quando este cronista se refere a D. Nuno Álvares Pereira que aqui passou em 1385. Escreveu que vindo em defesa das terras do alto Minho depois de ter pernoitado em Leça (a uma légua do Porto) seguiu para norte “… e indo assim seu caminho, chegaram um dia a horas de vésperas a par de um lugar que chamam Neiva, que são sete léguas do Porto”.
 Rio Neiva
No que se refere à passagem do Rio Neiva, e depois de estudada variada documentação, ficam-nos dúvidas se não existira uma passagem mais próxima da foz deste rio, no lugar a que chamam de Barca.
De facto, João da Barca, natural de Guilheta, homem que viveu metade da sua vida no século XIX, afirmou que “… falares antigos diziam que a Estrada Velha passava por ali – próximo da foz do Neiva”. Ouvira-o “aos pais e os pais aos que os geraram”. Numa outra referência a esta passagem afirma-se que “ … vem junto aos fieiros um caminho que sai da estrada de Belinho, lugar de Sanfins, e vai à Barca, na Foz do Neiva, atravessando pe4las pedras para continuar na outra margem, pelo lugar do Rêgo da Fossa (Castelo de Neiva) … Aliás este era ainda o cominho que as gentes de Marinhas, Belinho e Antas seguiam para irem à feira à Vila de Viana[3].
Este itinerário aparece descrito por Manuel de Boaventura quando se refere à família do lavrador de Apúlia, João Saraiva, assassinado no Faro de Anha pela quadrilha do Laranjeira, que procurou solenizar esta efeméride mandando construir um cruzeiro “ … num fieiro da praia, na linha do Faro, pois habitualmente era por ali que passavam os amigos e conhecidos do morto[4].
Sabemos que em 1842 foi aqui estabelecida uma barca de passagem cujo proprietário era Francisco Caramalho, de Antas. Num documento do Governo Civil de Viana do Castelo, de 1843, afirmava-se que esta barca “… distava uma légua do barco de ponte e três da passagem” e que “… faz parte da estrada de Viana a Esposende pela praia; é muito frequentada”. Mais se dizia que “… há poucos anos existia uma ponte de madeira neste sítio que as enchentes destruíram[5]. Num outro inquérito sobre esta mesma barca, com data de 1849, ficamos a saber que esta “… não fazia parte da estrada real ou militar”.


[1] - Neste Solar viveu o Poeta António Corrêa D’oliveira. Trata-se de um vínculo anterior ao século XVI, instituído pelos Cunha e Sottomaior. 
[2] - AMADOR (20 de Agosto) – Eremita de Quercy identificado como Zaqueu, publicano em casa de quem Jesus se terá alojado, e que viria a casar com Santa Verónica. Com o nome de Amador, Zaqueu teria assistido ao martírio de S. Pedro e de S. Paulo. Regressado à Gália, para onde emigrara com Santa Verónica, ficou viúvo e tornou-se eremita. Foi o fundador do Santuário de Nossa Senhora de Rocamadour, em França.
[3] - ARAÚJO, José Rosa de (1962) – Caminhos Velhos e Pontes de Viana e Ponte de Lima, Viana do Castelo.
[4] - BOAVENTURA, Manuel de (1960) – Zé do Telhado no Minho, Barcelos.
[5] - NEIVA, Adélio Torres (1999) – S. Paio de Antas: Sua História, Sua Gente”, Ed. Fábrica da Igreja de S. Paio de Antas, Antas.

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