domingo, 8 de maio de 2016

RUAS DE ESPOSENDE
V
PRAÇA DO MUNICÍPIO


“ O Melro, na madôrna da tarde, sentado nos bancos de granito da Praça, olhos vagos, ou desfia o cânhamo dum pedaço de cabo de navio ou, descrevendo uma curva sobre as pontas de mamados charutos, pica-os pacientemente para fazer o vinagrinho das suas pitadas … Arrimado ao arco que abre para a Rua Direita, o Tio Bento de japôna ao ombro, o barrete escuro pendente orelha abaixo, aguardava resignado o vintém dos esmoleres … à esquina da cadeia, o Fortuna anotava as franguinhas que passavam e, das mais próprias a encher as vazas, vinha-nos dizer segredeiro, piscando o olho maroto: - Menino aquilo é mesmo oiro do olibes! … Caem serenas as badaladas das trindades, do alto das torres da Matriz e da sineira da Misericórdia. A tarde morre também serena. A pardalada chilrêa assanhada nos quintais e nas magnólias da Praça … junto à porta lateral da Misericórdia, o Frente sacudia a quentura deixada pelo vasto assento do tio Galante no banco de pedra, senta-se para preleccionar a má-língua do burgo … “

Luís Viana, Esposende – 1885


1.ª PRAÇA DO MUNICÍPIO
2.ª PRAÇA CONDE DE CASTRO
3.ª PRAÇA DA REPÚBLICA
4.ª PRAÇA DO MUNICÍPIO

É nesta praça que se encontram os dois grandes eixos viários que, desde o século XVI, cruzam o burgo esposendense. Também é aqui que se concentravam as várias instituições e serviços públicos formando como que o “fórum” da vida da vida concelhia. O seu perímetro era ocupado essencialmente pelos seguintes edifícios; Paços do Município ocupando a frente norte, Igreja da Misericórdia a frente poente, a Casa da Praça a frente sul e a frente nascente, em parte, era ocupada pela velha cadeia, mais tarde substituída pela famosa “Casa Havaneza”.
Esta praça sofreu grandes alterações por volta de 1732 quando se iniciaram as obras do edifício dos Paço Municipal, obras que decorreram até 1758[1]. O seu construtor foi o Mestre Pedreiro Domingos Martins, natural de Gemeses.
Mais tarde, em Agosto de 1852, o espaço em frente ao edifício municipal é transformado em praça, sendo-lhe colocadas umas colunas em granito, trabalhadas por Mestre Vicente Moimenta, natural de Fão[2]. O gradeamento inicial era em ferro e foi trabalhado pelos Esposendenses Manuel Gomes Gaio e Joaquim Gonçalves Nibra[3].
O edifício da Câmara, tal como era descrito em 1925, “… era de boa cantaria, é formada a sua frente por três arcos muito elegantes e mais dois; um do lado nascente e outro do poente, este nas traseiras da Capela da Misericórdia e o primeiro que confronta com a aludida Rua Direita. Tem o rés-do-chão onde se encontram instaladas as seguintes repartições: secretaria judicial, gabinete do chefe da secretaria judicial, aferição de pesos e medidas e repartição da fazenda pública. Onde hoje se encontra o gabinete do chefe da secretaria judicial e aferição de pesos e medidas, já esteve durante algum tempo a cadeia comarcã; como fosse demasiadamente impróprio tal lugar, mesmo porque muitos rapazes passavam às grades da cadeia o seu tempo conversando com os presos, foi retirada para o Hospital Velho, lugar também impróprio. No primeiro andar: Tribunal Judicial, Sala das Sessões da Câmara, gabinete e outras repartições, todas pertencentes à Câmara. Foi restaurado em 1913 – alindado nas arcarias, escadas e entradas para as secretarias com lindos azulejos modernos e mosaicos que lhe impôs um aspecto diversos e interessante “.
Na esquina do nascente desta Praça, fazendo face para a Rua 1,º de Dezembro e Nossa Senhora da Saúde (então Rua 15 de Agosto), levantava-se “… uma torre feita de pedra grossa. Esta torre – Cadeia Velha, tinha duas janelas viradas para a Rua 1.º de Dezembro e duas para a Rua Senhora da Saúde, de 60 cm de largo e 85 de alto, com grades de grossos ferros. No cunhal da esquina possuía o brasão das armas portuguesas feito em pedra, de bastante valor artístico”.
Este edifício entrou em ruína total e não oferecia quer segurança para guardar presidiários quer mesmo condições de salubridade para que aí pudesse viver alguém. Por essa razão foi abandonado e em 19 de Junho de 1922, a Câmara Municipal decidiu proceder à arrematação de parte do terreno onde estava edificada. A base de licitação foi de 600$00 e nesse acto apareceu o Dr. Ramiro de Barros Lima, com procuração do Dr. António de Sousa Ribeiro, que o comprou por 650$00.
A Casa Havaneza abriu as suas portas em 1 de Março de 1928. Pertencia à firma Abreu e C.ª L.da da qual faziam parte o Dr. Artur Barros Lima e José d’Abreu. Era assim descrita “… tem arte e bom gosto este estabelecimento; as suas estantes vitrines e balcão afastam-se do comum dos velhos estabelecimentos do burgo. Vê-se que ali não presidiu o espírito da ganância, mas sim a vontade de agradar ao público e proporcionar-lhe, a par de objectos de útil necessidade, o bem-estar e a impressão nítida do bom gosto dos seus proprietários “.


Durante a minha viagem,
Desde Lisboa a Melgaço,
Nalguns pontos de paragem
Tomei café com “bagaço”

Porém, digo, com franqueza,
Que apenas o encontrei
Bom e soberbo, de lei,
Na sua “Casa Havaneza”

Um forasteiro, 20.9.1940


Dado ser um cruzamento de grande movimento, os governantes desde sempre consideraram ser um local com estrangulamentos que era necessário corrigir.

Na reunião de Câmara de 9 de Junho de 1888 e pelo Presidente do Executivo[4] foi apresentada a seguinte Proposta “… A Praça Municipal se denomine de hoje para o futuro PRAÇA CONDE DE CASTRO[5] e que nela se levante um monumento em cuja base se inscreva o seguinte na face da frente: Ao nobre Conde de Castro a Municipalidade agradecida e nos restantes os melhoramentos que por seu intermédio nos têm sido concedidos e as respectivas datas “.
Para ser levantado este Monumento, e tendo em vista o seu financiamento, a Câmara municipal teve que solicitar autorização à Comissão Distrital de Braga. Esta através do ofício n.º 280 de 6 de Junho informa a Câmara de que não poderia debruçar-se sobre este pedido já que não era conhecedora nem do projecto do monumento, nem dos detalhes e muito menos do seu custo.
Na reunião de Câmara de 22 de Agosto de 1852, era Presidente José Joaquim de Faria Azevedo, procedeu-se à arrematação da obra de pedreiro “… que tem a fazer-se na Praça desta vila, conforme o aprovado”. Manou-se ladrilhar a “Praça que fica defronte ao Paço do Concelho gradiando-se em toda a volta ficando com fojo em frente da entrada da Câmara, outro em frente da entrada da Misericórdia, outro do lado norte e outro do lado sul debaixo dos arcos, cuja obra se mandou por em praça pública”. Lançado o pregão a obra foi adjudicada ao Mestre Pedreiro Vicente Moimenta, natural de Fão, pelo valor de 148$000 reis. Do caderno de encargos constava: “1- Todo o espaço compreendido debaixo da arcada do Paço será ladrilhado de esquadria, sendo a esquadria da entrada toda igual em comprimento e largura, e ficando a parte do poente no nível em que se acha a do nascente, levando em cada uma das entradas do nascente e do poente um quadrado de esquadria para fôjo, que será em todo o comprimento e da largura de cinco palmos, com quatro de fundo; 2 – Todo o espaço da Praça que se acha por ladrilhar será também ladrilhado, encabeçando no ladrilhado velho do lado sul, do lado norte com a fronteira do Paço do Concelho, com rebaixe de quatro polegadas para impedir que as águas entrem para debaixo dos arcos; 3 - Toda a fiada que está em volta da Praça, de norte a sul e do nascente a poente, será demolida, e feita de novo, e por cima desta fiada será feito um paredão de dois palmos de esquadria à fiada, sendo uma por dentro e outra por fora, não admitindo alvenaria, e por cima levará uma cápea de um palmo de grossura e dois e meio de largura sendo limpa e enodada e tendo o paredão dois palmos de largo, de forma que a cápea forme uma faixa de uma polegada do lado de fora e de três do lado de dentro; 4 – No lado nascente, em frente da Misericórdia e no meio do paredão ficará uma entrada de 10 palmos de largo e com um fôjo igual ao da condição primeira, e do lado sul, no meio do paredão em frente às entradas do Paço do Concelho haverá outra entrada da mesma largura e com igual fôjo tendo cada uma destas entradas um pilar de cada lado da grossura do paredão até à altura de quatro palmos, sendo daí para cima de palmo e meio em quadro até à altura de sete palmos incluindo o remate que será pelo modelo presente e levando mais em cada um dos lados da entrada, pelo meio do paredão três pilares iguais aos da entrada e em iguais espaços sendo um a cada canto e dois no meio, e do lado sul levará mais três pilares, também iguais aos outros, sendo um encostado à esquina da Misericórdia, e os outros dois, um de cada lado, da entrada, em iguais espaços; 5 – Os assentos que se acham à face da igreja da Misericórdia, serão demolidos e reformados de novo, sendo feitos em todo o comprimento da igreja, sendo cheios de cima a baixo, ficando semelhantes ao paredão da Praça e o serão também os assentos que se acham à face do Paço do Concelho debaixo da arcaria, e no paredão da Praça do lado sul, tanto no canto do mar como no da terra, levará um buraco que dê livre saída das águas para a rua”.
Para além destas obras foram mandados fazer passeios “… desde a porta principal da Misericórdia até ao canto da Praça … e do dito canto junto à dita Praça e pela Rua Direita … desde a esquina da Cadeia até à casa de Miguel Ribeiro dos Santos”. Esta obra foi entregue ao Mestre Pedreiro António José Fernandes Loureiro, de Esposende.

Em 1917 esta Praça sofreu uma profunda alteração, sendo-lhe retirado o gradeamento que aí existia assim como foram arrancadas as árvores aí plantadas.
As obras entretanto pararam e os Esposendenses não viam com bons olhos o estado degradado a que tinha chegado a praça central de Esposende. Assim na reunião de Câmara de 5 de Janeiro de 1918 foi apresentada a seguinte proposta “ Que o Largo fronteiro ao município seja ajardinado, preterindo-se para melhor oportunidade a sua modificação, atendendo ao grande custo dos materiais”. Curiosamente nesta proposta identificava-se este largo como Praça da República, tal como é chamada em 1919 aquando as obras de calcetamento. Questionado sobre o custo das obras, o Presidente informou que o mesmo era elevado porque o projecto previa que a sua reconstrução fosse feita com “granito de Lisboa” e que só a pedra, colocada em Esposende, rondaria os 200$00 o que era muito para os cofres do município. Nesta mesma reunião foi nomeada uma Comissão específica para aconselhamento dos Melhoramentos Locais, constituída pelo Delegado Procurador da República, Dr. João Caetano da Fonseca Lima e pelo Dr. Alexandre Henriques Torres.
Somente em Abril de 1919 é que se iniciaram os trabalhos de remoção dos lajeados da Praça e se preparou o terreno para o seu ajardinamento. É claro que nada foi concluído e a praça começava dar sinais de abandono. 

Nesta altura a Câmara decidiu reiniciar as obras que estavam paradas desde 1917. Pretendia a Câmara dar-lhe um aspecto semelhante ao que existia antes mas, aproveitar para fazer alguns ajustes de áreas de forma a torná-la mais ampla e, ao mesmo tempo dar amplitude às ruas que aí afluíam.
Em 8 de Fevereiro de 1926 a Câmara mandou arrancar as árvores que estavam na Praça da República e proceder ao nivelamento do passeio que a circundava.
O Presidente da Câmara Valentim Ribeiro da Fonseca manda afixar um Edital, com data de 23 de Novembro de 1926, no qual anunciava que “… pelas 14 horas do dia 13 do próximo mês de Dezembro se há-de proceder, na sala de sessões da Câmara, à arrematação da obra de reconstituição da Praça da República, nesta Vila[6].
Na reunião do executivo municipal de 6 de Dezembro de 1926 e por proposta do seu Presidente foi decidido “… mudar a denominação da Praça da República, antiga Praça Conde de Castro, para PRAÇA DO MUNICÍPIO “.

Em 17 de Fevereiro de 1927 o Presidente informou a Câmara de que para se proceder às obras na Praça do Município era necessário solicitar autorização à Direcção de Estradas de Braga. Foi enviado o projecto das obras a fazer e através do ofício de 27 de Janeiro, a Direcção de Estradas autoriza “… proceder à reconstrução da Praça da República de que faz parte em volta do mesmo um gradeamento assente em pedra, praça esta que confina pelo nascente com a Estrada Distrital N.º 7, ficando o município sujeito às seguintes condições: A obra tinha que ficar a 3,60 m do eixo da estrada; o prazo da obra era de 6 meses “. Uma das exigências daquele organismo era que “ fosse retirado o gradeamento na parte confinante com a estrada, quando seja necessário proceder-se ao alargamento da mesma “.


Na reunião de Câmara de 4 de Maio de 1955 foi deliberado aprovar o projecto referente ao arranjo da Praça “ anexa ao edifício dos Paços do Concelho”. O estudo foi do Arquitecto Francisco Augusto o qual mereceu inteira aprovação quer da Câmara Municipal quer da Comissão de Arte e Arqueologia deste concelho.




[1] - O valor da obra foi de 900$000 reis
[2] - O valor destas colunas foi de 140$000 reis
[3] - O gradeamento custou 1$500 reis
[4] - Ver Proposta apresentada na Rua Narciso Ferreira
[5] - Para conhecer a Biografia de Conde de Castro ver Rua Conde de Castro.
[6] - Edital N.º 56 da Câmara Municipal de Esposende. 

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