domingo, 8 de maio de 2016

RUAS DE ESPOSENDE
II

Rua Narciso Ferreira


NARCISO FERREIRA
Industrial e Benemérito (1862-1933)


 Narciso Ferreira nasceu em S. Pedro de Pedome – Riba D’Ave, Concelho de Vila Nova de Famalicão, em 7 de Julho de 1862.
Filho de António Ferreira, lavrador e de Maria Sampaio, doméstica.
Neto Paterno de Custódio Ferreira e de Ana Abreu e Materno de Domingos Sampaio e de Francisca Pacheco.
Narciso Ferreira foi, sem dúvida, o percursor da electrificação industrial. É ele próprio que define a electricidade como “,,, é assim a modos de uma alma, que ninguém vê, mas que faz grandes milagres: É uma santa!”.
Com apenas 19 anos de idade fundou, em Pedome, a sua primeira unidade industrial – uma pequena fábrica com dois teares manuais, destinados à tecelagem do algodão.
Casa em 1882 com Eva Rosa de Oliveira, natural de Riba D’Ave e é para aí que transfere a sua pequena “indústria”.
Adquire nas margens do rio Ave uma pequena porção de terreno bravio, junto de um pequeno açude, e aí instala a sua fábrica, aumentado para 18 teares (1890-1894), unidade que, mais tarde se transforma na firma Sampaio, Ferreira e C.ª L.da. Nesta altura associa-se a importantes Homens de negócio e da banca alargando a sua acção empresarial a quase todo o vale do Ave.
Com uma larga visão de modernidade e de inovação tecnológica, inicia o aproveitamento hidroeléctrico como força motor para as suas empresas.
Funda, em 1905, na freguesia de Bairros, a Empresa Têxtil Eléctrica, Lda.
Por sua iniciativa funda a Companhia Hidroeléctrica do Varosa (Lamego) – o primeiro grande empreendimento para aproveitamento hidroeléctrico do país. Aliás é devido a este projecto que muitos concelhos do norte de Portugal, entre os quais Esposende, puderam usufruir da energia eléctrica pública. Mais tarde esta empresa dá origem à CHENOP. 
Com a fortuna que ia adquirindo desde logo a colocou ao serviço do bem social dos seus operários, criando Hospital, Escolas, Creches, Casas para Operários, etc., tudo para promover o bem social e qualidade de vida daqueles que o ajudaram a prosperar na vida.
Foi Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e da Associação Comercial e Industrial do concelho.
Foi agraciado pelo Presidente da República, em 1 de Março de 1930, com a Grã-cruz de Mérito Industrial.
O Escritor Manuel de Boaventura, que bem o conhecia, fez dele o seguinte retrato “ … era um velho insinuante e simpático, de vincada fisionomia sueva, onde uns olhos pesquisadores lampejavam vivacidade de espírito. Caracterizava-o a rudez do Homem de trabalho, mas uma rudez simpática, que aproximava e atraía “. 
Faleceu em 23 de Março de 1933.



HISTÓRIA DA RUA

1.ª RUA DA FERRARIA
2.ª RUA EMYDGIO NAVARRO
3.ª RUA NARCISO FERREIRA


Tem início na Praça do Município e termina na Rua João Amândio. Até 1930 esta rua terminava no Largo de Santana, hoje Largo do Pelourinho.


Esta Rua teve como primeira designação RUA DA FERRARIA, sendo uma das primeiras referências toponímicas de Esposende.
Aparece assim designada em documentos da primeira metade do século XVII.
É referenciada em 1680 e no levantamento do número de pescadores existentes nesta vila de Esposende, em 1750, foram aqui registados 22.
Este topónimo não é mais do que o indicativo do local onde se concentrariam as actividades de apoio ao passante, àqueles que utilizavam a estrada que conduzia do Porto a Viana do Castelo. Era mais que normal que nesta rua – Estrada Nacional N.º 1, se situasse a ferraria ou ferrarias que tão necessárias eram para os cavaleiros e carruagens que por aqui cruzavam. 
Na reunião de Câmara de 17 de Setembro de 1857 foi apresentado um requerimento de Manuel Gonçalves Gaio “ … pedindo licença para alevantar a casa pequena da forja que possui na Rua da Ferraria, mas para isso tem necessidade do recanto que a mesma casa faz e pretendia mais alevantar o muro junto à mesma casa”. Em 4 de Abril de 1862 esta rua foi arranjada, mais precisamente na parte sul. As obras realizadas consistiram em “… rebaixá-la até ao fim do passeio e reformar até à esquina do cunhal da casa do Coxo da parte sul; ladrilhar toda a rua a pedra do monte, mas grande, a principiar no tranqueiro da porta do caseiro a findar no fim do lajeado que lá existe, e tem de receber as águas que vem da Cangosta Trás-os-Açougues e saimento preciso para o lado do sul”. Logo a seguir, em 25 de Janeiro de 1863, a Câmara deliberou dotar esta rua com passeios pela parte do nascente. Encarregou-se deste trabalho o Mestre Pedreiro Vicente Moimenta. Do caderno de encargos da obra constava que “… as pedras tinham que ser inteiriças até onde chegar, até 4 palmos, ou 88 cm e o que passar será segundo a capacidade da rua e irá parar até à porta do P.e Luís, de forma que fique igual aos outros passeios já feitos…”
Passou-se a chamar, após 1888, Emídgio (Emídio) Navarro[1],
Na reunião de Câmara de 9 de Junho de 1888 o Presidente da Câmara Comendador João Félix de Miranda Magalhães fez a seguinte proposta: “ Meus senhores o momento que atravessamos ao mesmo tempo que justifica o alvitre que venho hoje apresentar-vos é de uma oportunidade que entendo não deve desprezar-se, São de todos nós conhecidos os dois grandes benefícios que a este concelho e em especial Esposende e Fão o Governo de Sua Majestade acaba de conceder e por isso inútil e ocioso se torna relatar e encarecer a sua importância. Quero referir-me à Ponte sobre o Cávado e à Escola Rodrigues Sampaio. É forçoso confessar meus senhores que melhoramentos desta ordem e deste alcance dos quais hão-de, sem dúvida sentir resultados que por tão valiosos mal poderão ainda prever-se, é forçoso confessar, repito, que os não pode simplesmente obter o povo (deixem-me assim falar) a importância deste concelho. Não quero com isto amesquinhar o concelho a que me honro, e todos nós justificadamente nos honramos de pertencer, concelho que tem sabido sempre manter briosamente a sua autonomia e procurando atingir o desenvolvimento de que é susceptível e de que se torna digno. É certo porém de que o valimento privativo de patriotas distintos e a coadjuvação de vultos eminentes da nossa política são os verdadeiros factores dos benefícios recebidos, como hão-de sê-lo dos que ainda a receber. É nosso dever pois, está e consiste sobretudo em sermos gratos; é indispensável mostrar que a semente dos seus benefícios não vem perder-se em terreno estéril mas que essa semente há-se encontrar o reconhecimento de todos e de cada um dos cidadãos deste concelho, para que ela germine e possa rebentar em novos frutos. Isto porém não é um mero dever, nem um simples direito de um indivíduo, duma classe ou dum partido; porque quando se trata de vantagens apetecidas e manifestas para o concelho, desaparece o indivíduo isolado, não há classe e todos os partidos (porque antes de tudo são patriotas) esquecem a diversidade de campos políticos para reconhecerem espontaneamente que a luta mais honrosa é a do bem-estar geral da nossa terra e do nosso berço. Convenço-me que este pensar é o pensar de todos e de cada um de nós. Se me não tenho como sendo o menor amante da minha pátria, também me não considero o maior ou melhor deles, porque sei que a todos nesta ocasião e noutras análogas, assinam os mais apreciáveis sentimentos de civismo e de amor pátrio.
É pois em virtude das considerações acima feitas que, eu passo a propor e a submeter À vossa ilustrada apreciação o seguinte que representará agora e no futuro um tributo merecido de reconhecimento e gratidão para com os beneméritos a que já acima me referi.
Proponho “ Que à Rua da Ferraria que liga com a projectada Avenida da Ponte seja denominada RUA EMYGDIO NAVARRO[2].
A Câmara aprovou por unanimidade esta proposta[3].
A partir de 26 de Abril de 1940, e por proposta do Presidente da Câmara P.e Manuel Sá Pereira, passa a chamar-se RUA NARCISO FERREIRA[4].


OBRAS NA RUA

Tratando-se de uma das ruas mais movimentadas da então vila, era natural que constantemente necessitasse de melhoramentos.
Em 18 de Março de 1855 o Mestre Pedreiro António Francisco, natural de Fão, procedeu ao calcetamento desta rua, pelo valor de 2760 reis.
Na sessão de Câmara de 23 de Fevereiro de 1907, o Vice-Presidente José Cândido da Silva Ramos, e dado o estado deplorável em que se encontrava esta rua, propôs ao executivo que este enviasse ao Governo uma reclamação urgente para que, através da Direcção das Obras Públicas, se procedesse ao arranjo daquela via já que não competia à Câmara fazê-lo pois era, para todos os efeitos, um troço da Estrada Nacional N.º 1. Sempre que chovia esta rua transformava-se num autêntico charco.
Em Fevereiro de 1923 iniciaram-se as obras de alargamento desta rua, junto ao cruzamento em frente aos Paços do Município, o coração de Esposende. Eram frequentes as queixas dos moradores pois este local era apertado e, por isso, para além de inestético, difícil para os transeuntes. Este alargamento só foi possível devido à cedência de uns pequenos edifícios que eram pertença de Ernesto Emílio de Faria. Aliás a sua demolição veio trazer mais visibilidade e beleza à sua própria casa e, por seu lado, a rua ficava mais ampla. Este alargamento foi também beneficiado com a demolição da antiga cadeia em cujo local foi, mais tarde edificada a “Casa Havaneza”.
Ao longo de vários anos a Câmara Municipal travou uma “batalha”, sem tréguas com o Poder Central no sentido deste permitir a passagem desta rua, assim como da rua 1.º de Dezembro (então Rua Direita), para jurisdição da Câmara pois, concerteza, ser-lhe-ia dada outra atenção no tocante à conservação. É neste sentido que em 29 de Julho de 1929, e dado que a Câmara tinha mandado elaborar a “Planta da Vila” e era forçoso que se obtivesse “… uma uniformidade de plano para os melhoramentos e alinhamentos” a rua Emídio Navarro deixasse de pertencer à jurisdição da Direcção das Obras Públicas e passasse para a Câmara. Foi dirigida uma petição, neste sentido, ao Governo.
Curiosamente sempre que era pedida uma nova construção nesta rua o respectivo alinhamento era obrigatoriamente dado por aquela direcção o que não agradava ao executivo camarário que assim perdia qualquer capacidade de ordenar o urbanismo em Esposende. Por vezes os técnicos da Câmara, ultrapassando as suas competências, procediam aos ajustes e alinhamentos como foi o caso da edificação da casa de Rosa Figueira cujo alinhamento fora deferido em Abril de 1892. A Direcção das O. Públicas contestou e avisou a Câmara da falta grave com aquele procedimento. Curiosamente voltou a passar-se o mesmo aquando a autorização concedida a Delfino de Miranda para a construção da sua casa e respectivo alinhamento.
Em 20 de Janeiro de 1936 os moradores desta rua apresentaram na Câmara uma representação solicitando que fosse aberta uma rua que ligasse o “caminho” Trás-os-Açougues com a Rua da Central, entre as casas que eram de Petronila e de Manuel Soares. Para além de alegarem questões de saúde pública, diziam que “era necessário dar livre escoante às águas que ainda esta noite inundaram todos os prédios daquele local, tornando-os inabitáveis e porque o conservar aquela rua no seu actual estado pode dar origem a desastres pessoais e mesmo a vítimas”.


MERCADO MUNICIPAL

Nesta rua funcionou a partir de 1928 o Mercado Municipal.
Na reunião de Câmara de 14 de Maio de 1928 a câmara achou por bem, e para melhor servir o público, instalar este mercado num recinto fechado. Acontecia, porém, que a Câmara não dispunha de orçamento para construir esse recinto. Assim decidiu que fosse arrendado por 5 anos o quintal, com frente para a Rua Emídio Navarro, “ contíguo à antiga fábrica desta vila” que pertencia a D. Ana Margarida Leitão Faria. O aluguer ficou estabelecido em 600$00/ano. Na frente deste espaço a Câmara mandou colocar o dístico “Mercado Municipal”.



[1] - A Emídio Júlio Navarro (N.1844; M.1905) deve Esposende o seu esforço pela construção da Ponte de Fão. Aquando Ministro das Obras Públicas (1886 – 1889), do governo de José Luciano de Castro, empreendeu uma grande tarefa de acelerar e concluir a rede de estradas de que o país tanto necessitava.
Licenciado em Direito, foi Conselheiro de Estado, Deputado e Escritor e Jornalista, Director do jornal “Novidades” que iniciou a sua publicação em 1885.
Foi Membro do Partido Progressista Histórico
[2] - A Emídio Júlio Navarro (N.1844; M.1905) deve Esposende o seu esforço pela construção da Ponte de Fão. Aquando Ministro das Obras Públicas (1886 – 1889) empreendeu uma grande tarefa de acelerar e concluir a rede de estradas de que o país tanto necessitava.
Licenciado em Direito, foi Conselheiro de Estado, Deputado e Escritor e Jornalista.
Foi Membro do Partido Progressista Histórico
[3] - O texto da Proposta é comum a outras novas designações de arruamentos aprovados na mesma altura. Dele nos referiremos nas alturas devidas.
[4] - Entretanto na reunião de Câmara de 26 de Abril de 1940 o executivo, liderado pelo P.e Manuel Sá Pereira, aprovou nova toponímia para a então Vila de Esposende, dando à Rua da Central, antiga Rua 31 de Janeiro, a designação de Rua Emídio Navarro, fazendo justiça a este figura grata para Esposende.

2 comentários:

  1. Meu bisavo nasceu em Esposende um FARIA. Minha avo falavamuito em Neivinha. Conscidencias. Abrçs.Ana MariaFaria

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  2. Cara Ana Maria, tenho muitos dados genealógicos sobre os Farias de Esposende. Se puder ajudar diga.

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