RUAS DE ESPOSENDE
V
PRAÇA DO MUNICÍPIO
“ O Melro, na
madôrna da tarde, sentado nos bancos de granito da Praça, olhos vagos, ou
desfia o cânhamo dum pedaço de cabo de navio ou, descrevendo uma curva sobre as
pontas de mamados charutos, pica-os pacientemente para fazer o vinagrinho das
suas pitadas … Arrimado ao arco que abre para a Rua Direita, o Tio Bento de
japôna ao ombro, o barrete escuro pendente orelha abaixo, aguardava resignado o
vintém dos esmoleres … à esquina da cadeia, o Fortuna anotava as franguinhas
que passavam e, das mais próprias a encher as vazas, vinha-nos dizer
segredeiro, piscando o olho maroto: - Menino aquilo é mesmo oiro do olibes! …
Caem serenas as badaladas das trindades, do alto das torres da Matriz e da
sineira da Misericórdia. A tarde morre também serena. A pardalada chilrêa
assanhada nos quintais e nas magnólias da Praça … junto à porta lateral da Misericórdia,
o Frente sacudia a quentura deixada pelo vasto assento do tio Galante no banco
de pedra, senta-se para preleccionar a má-língua do burgo … “
Luís Viana, Esposende – 1885
1.ª PRAÇA DO MUNICÍPIO
2.ª PRAÇA CONDE DE CASTRO
3.ª PRAÇA DA REPÚBLICA
4.ª PRAÇA DO MUNICÍPIO
É nesta praça que se encontram os
dois grandes eixos viários que, desde o século XVI, cruzam o burgo
esposendense. Também é aqui que se concentravam as várias instituições e
serviços públicos formando como que o “fórum” da vida da vida concelhia. O seu
perímetro era ocupado essencialmente pelos seguintes edifícios; Paços do
Município ocupando a frente norte, Igreja da Misericórdia a frente poente, a
Casa da Praça a frente sul e a frente nascente, em parte, era ocupada pela
velha cadeia, mais tarde substituída pela famosa “Casa Havaneza”.
Esta praça sofreu grandes
alterações por volta de 1732 quando se iniciaram as obras do edifício dos Paço
Municipal, obras que decorreram até 1758[1]. O
seu construtor foi o Mestre Pedreiro Domingos Martins, natural de Gemeses.
Mais tarde, em Agosto de 1852, o
espaço em frente ao edifício municipal é transformado em praça, sendo-lhe
colocadas umas colunas em granito, trabalhadas por Mestre Vicente Moimenta,
natural de Fão[2]. O gradeamento inicial era
em ferro e foi trabalhado pelos Esposendenses Manuel Gomes Gaio e Joaquim
Gonçalves Nibra[3].
O edifício da Câmara, tal como
era descrito em 1925, “… era de boa
cantaria, é formada a sua frente por três arcos muito elegantes e mais dois; um
do lado nascente e outro do poente, este nas traseiras da Capela da
Misericórdia e o primeiro que confronta com a aludida Rua Direita. Tem o
rés-do-chão onde se encontram instaladas as seguintes repartições: secretaria
judicial, gabinete do chefe da secretaria judicial, aferição de pesos e medidas
e repartição da fazenda pública. Onde hoje se encontra o gabinete do chefe da
secretaria judicial e aferição de pesos e medidas, já esteve durante algum
tempo a cadeia comarcã; como fosse demasiadamente impróprio tal lugar, mesmo
porque muitos rapazes passavam às grades da cadeia o seu tempo conversando com
os presos, foi retirada para o Hospital Velho, lugar também impróprio. No
primeiro andar: Tribunal Judicial, Sala das Sessões da Câmara, gabinete e
outras repartições, todas pertencentes à Câmara. Foi restaurado em 1913 –
alindado nas arcarias, escadas e entradas para as secretarias com lindos
azulejos modernos e mosaicos que lhe impôs um aspecto diversos e interessante
“.
Na esquina do nascente desta
Praça, fazendo face para a Rua 1,º de Dezembro e Nossa Senhora da Saúde (então
Rua 15 de Agosto), levantava-se “… uma
torre feita de pedra grossa. Esta torre – Cadeia Velha, tinha duas janelas
viradas para a Rua 1.º de Dezembro e duas para a Rua Senhora da Saúde, de 60 cm
de largo e 85 de alto, com grades de grossos ferros. No cunhal da esquina
possuía o brasão das armas portuguesas feito em pedra, de bastante valor
artístico”.
Este edifício entrou em ruína
total e não oferecia quer segurança para guardar presidiários quer mesmo
condições de salubridade para que aí pudesse viver alguém. Por essa razão foi
abandonado e em 19 de Junho de 1922, a Câmara Municipal decidiu proceder à
arrematação de parte do terreno onde estava edificada. A base de licitação foi
de 600$00 e nesse acto apareceu o Dr. Ramiro de Barros Lima, com procuração do
Dr. António de Sousa Ribeiro, que o comprou por 650$00.
A Casa Havaneza abriu as suas
portas em 1 de Março de 1928. Pertencia à firma Abreu e C.ª L.da da qual faziam
parte o Dr. Artur Barros Lima e José d’Abreu. Era assim descrita “… tem arte e bom gosto este estabelecimento;
as suas estantes vitrines e balcão afastam-se do comum dos velhos estabelecimentos
do burgo. Vê-se que ali não presidiu o espírito da ganância, mas sim a vontade
de agradar ao público e proporcionar-lhe, a par de objectos de útil
necessidade, o bem-estar e a impressão nítida do bom gosto dos seus
proprietários “.
Durante
a minha viagem,
Desde
Lisboa a Melgaço,
Nalguns
pontos de paragem
Tomei
café com “bagaço”
Porém,
digo, com franqueza,
Que
apenas o encontrei
Bom
e soberbo, de lei,
Na
sua “Casa Havaneza”
Um
forasteiro, 20.9.1940
Dado ser um cruzamento de grande
movimento, os governantes desde sempre consideraram ser um local com
estrangulamentos que era necessário corrigir.
Na reunião de Câmara de 9 de
Junho de 1888 e pelo Presidente do Executivo[4] foi
apresentada a seguinte Proposta “… A
Praça Municipal se denomine de hoje para o futuro PRAÇA CONDE DE CASTRO[5] e que nela se
levante um monumento em cuja base se inscreva o seguinte na face da frente: Ao
nobre Conde de Castro a Municipalidade agradecida e nos restantes os
melhoramentos que por seu intermédio nos têm sido concedidos e as respectivas
datas “.
Para ser levantado este
Monumento, e tendo em vista o seu financiamento, a Câmara municipal teve que
solicitar autorização à Comissão Distrital de Braga. Esta através do ofício n.º
280 de 6 de Junho informa a Câmara de que não poderia debruçar-se sobre este
pedido já que não era conhecedora nem do projecto do monumento, nem dos
detalhes e muito menos do seu custo.
Na reunião de Câmara de 22 de
Agosto de 1852, era Presidente José Joaquim de Faria Azevedo, procedeu-se à
arrematação da obra de pedreiro “… que
tem a fazer-se na Praça desta vila, conforme o aprovado”. Manou-se
ladrilhar a “Praça que fica defronte ao Paço do Concelho gradiando-se em toda a
volta ficando com fojo em frente da entrada da Câmara, outro em frente da entrada
da Misericórdia, outro do lado norte e outro do lado sul debaixo dos arcos,
cuja obra se mandou por em praça pública”. Lançado o pregão a obra foi
adjudicada ao Mestre Pedreiro Vicente Moimenta, natural de Fão, pelo valor de
148$000 reis. Do caderno de encargos constava: “1- Todo o espaço compreendido debaixo da arcada do Paço será ladrilhado
de esquadria, sendo a esquadria da entrada toda igual em comprimento e largura,
e ficando a parte do poente no nível em que se acha a do nascente, levando em
cada uma das entradas do nascente e do poente um quadrado de esquadria para
fôjo, que será em todo o comprimento e da largura de cinco palmos, com quatro
de fundo; 2 – Todo o espaço da Praça que se acha por ladrilhar será também
ladrilhado, encabeçando no ladrilhado velho do lado sul, do lado norte com a
fronteira do Paço do Concelho, com rebaixe de quatro polegadas para impedir que
as águas entrem para debaixo dos arcos; 3 - Toda a fiada que está em volta da
Praça, de norte a sul e do nascente a poente, será demolida, e feita de novo, e
por cima desta fiada será feito um paredão de dois palmos de esquadria à fiada,
sendo uma por dentro e outra por fora, não admitindo alvenaria, e por cima
levará uma cápea de um palmo de grossura e dois e meio de largura sendo limpa e
enodada e tendo o paredão dois palmos de largo, de forma que a cápea forme uma
faixa de uma polegada do lado de fora e de três do lado de dentro; 4 – No lado
nascente, em frente da Misericórdia e no meio do paredão ficará uma entrada de
10 palmos de largo e com um fôjo igual ao da condição primeira, e do lado sul,
no meio do paredão em frente às entradas do Paço do Concelho haverá outra
entrada da mesma largura e com igual fôjo tendo cada uma destas entradas um
pilar de cada lado da grossura do paredão até à altura de quatro palmos, sendo
daí para cima de palmo e meio em quadro até à altura de sete palmos incluindo o
remate que será pelo modelo presente e levando mais em cada um dos lados da
entrada, pelo meio do paredão três pilares iguais aos da entrada e em iguais
espaços sendo um a cada canto e dois no meio, e do lado sul levará mais três
pilares, também iguais aos outros, sendo um encostado à esquina da
Misericórdia, e os outros dois, um de cada lado, da entrada, em iguais espaços;
5 – Os assentos que se acham à face da igreja da Misericórdia, serão demolidos
e reformados de novo, sendo feitos em todo o comprimento da igreja, sendo
cheios de cima a baixo, ficando semelhantes ao paredão da Praça e o serão
também os assentos que se acham à face do Paço do Concelho debaixo da arcaria,
e no paredão da Praça do lado sul, tanto no canto do mar como no da terra,
levará um buraco que dê livre saída das águas para a rua”.
Para além destas obras foram
mandados fazer passeios “… desde a porta principal da Misericórdia até ao canto
da Praça … e do dito canto junto à dita Praça e pela Rua Direita … desde a
esquina da Cadeia até à casa de Miguel Ribeiro dos Santos”. Esta obra foi
entregue ao Mestre Pedreiro António José Fernandes Loureiro, de Esposende.
Em 1917 esta Praça sofreu uma
profunda alteração, sendo-lhe retirado o gradeamento que aí existia assim como
foram arrancadas as árvores aí plantadas.
As obras entretanto pararam e os
Esposendenses não viam com bons olhos o estado degradado a que tinha chegado a
praça central de Esposende. Assim na reunião de Câmara de 5 de Janeiro de 1918
foi apresentada a seguinte proposta “ Que
o Largo fronteiro ao município seja ajardinado, preterindo-se para melhor
oportunidade a sua modificação, atendendo ao grande custo dos materiais”. Curiosamente
nesta proposta identificava-se este largo como Praça da República, tal como é chamada em 1919 aquando as obras de
calcetamento. Questionado sobre o custo das obras, o Presidente informou que o
mesmo era elevado porque o projecto previa que a sua reconstrução fosse feita
com “granito de Lisboa” e que só a
pedra, colocada em Esposende, rondaria os 200$00 o que era muito para os cofres
do município. Nesta mesma reunião foi nomeada uma Comissão específica para
aconselhamento dos Melhoramentos Locais, constituída pelo Delegado Procurador
da República, Dr. João Caetano da Fonseca Lima e pelo Dr. Alexandre Henriques
Torres.
Somente em Abril de 1919 é que se
iniciaram os trabalhos de remoção dos lajeados da Praça e se preparou o terreno
para o seu ajardinamento. É claro que nada foi concluído e a praça começava dar
sinais de abandono.
Nesta altura a Câmara decidiu
reiniciar as obras que estavam paradas desde 1917. Pretendia a Câmara dar-lhe
um aspecto semelhante ao que existia antes mas, aproveitar para fazer alguns
ajustes de áreas de forma a torná-la mais ampla e, ao mesmo tempo dar amplitude
às ruas que aí afluíam.
Em 8 de Fevereiro de 1926 a
Câmara mandou arrancar as árvores que estavam na Praça da República e proceder
ao nivelamento do passeio que a circundava.
O Presidente da Câmara Valentim
Ribeiro da Fonseca manda afixar um Edital, com data de 23 de Novembro de 1926,
no qual anunciava que “… pelas 14 horas
do dia 13 do próximo mês de Dezembro se há-de proceder, na sala de sessões da
Câmara, à arrematação da obra de reconstituição da Praça da República, nesta
Vila “[6].
Na reunião do executivo municipal
de 6 de Dezembro de 1926 e por proposta do seu Presidente foi decidido “… mudar a denominação da Praça da República,
antiga Praça Conde de Castro, para PRAÇA
DO MUNICÍPIO “.
Em 17 de Fevereiro de 1927 o
Presidente informou a Câmara de que para se proceder às obras na Praça do
Município era necessário solicitar autorização à Direcção de Estradas de Braga.
Foi enviado o projecto das obras a fazer e através do ofício de 27 de Janeiro,
a Direcção de Estradas autoriza “…
proceder à reconstrução da Praça da República de que faz parte em volta do
mesmo um gradeamento assente em pedra, praça esta que confina pelo nascente com
a Estrada Distrital N.º 7, ficando o município sujeito às seguintes condições:
A obra tinha que ficar a 3,60 m do eixo da estrada; o prazo da obra era de 6
meses “. Uma das exigências daquele organismo era que “ fosse retirado o gradeamento na parte
confinante com a estrada, quando seja necessário proceder-se ao alargamento da
mesma “.
Na reunião de Câmara de 4 de Maio
de 1955 foi deliberado aprovar o projecto referente ao arranjo da Praça “ anexa ao edifício dos Paços do Concelho”.
O estudo foi do Arquitecto Francisco Augusto o qual mereceu inteira aprovação
quer da Câmara Municipal quer da Comissão de Arte e Arqueologia deste concelho.
[1] - O valor da obra foi de
900$000 reis
[2] - O valor destas colunas
foi de 140$000 reis
[3] - O gradeamento custou
1$500 reis
[4] - Ver Proposta apresentada
na Rua Narciso Ferreira
[5] - Para conhecer a
Biografia de Conde de Castro ver Rua Conde de Castro.
[6] - Edital N.º 56 da Câmara
Municipal de Esposende.
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