RUAS DE ESPOSENDE
III
Rua Senhora da Saúde
1.ª RUA S. SEBASTIÃO
2.ª RUA CASTRO MONTEIRO
3.º RUA 15 DE AGOSTO
4.ª RUA TRIGO DE NEGREIROS
5.ª RUA N.ª Sr.ª DA SAÚDE
Tem início na Praça do Município
e termina na Estrada Nacional N.º 13, em frente à Avenida Barros Lima[1].
HISTÓRIA DA RUA
Esta Rua, uma das mais antigas de
Esposende, chamou-se, até 1888, RUA DE
S. SEBASTIÃO.
Esta designação prende-se ao
facto de ter sido S. Sebastião, desde meados do século XVI, o primitivo orago
da capela, hoje de invocação Sr.ª da Saúde[2]. Já assim
é referida, pelo menos em documentos datados de 1644.
Nesta rua existiam casas de gente
muito abastada tendo em conta o número de escravos que possuíam.
Na reunião de Câmara de 9 de
Junho de 1888 foi apresentada uma proposta pelo Presidente (VER PROPOSTA EM
NARCISO FERREIRA) “ Que a Rua de S. Sebastião se passe a denominar RUA CASTRO MONTEIRO “[3]. Francisco
de Castro Gomes Monteiro foi Deputado pelo Círculo onde Esposende se incluía,
em 1881, e a ele se deve o grande empenho para a construção da Ponte de Fão
sobre o Cávado.
OBRAS NA RUA
O Executivo Municipal na sua
sessão de 27 de Fevereiro de 1841 vistoriou as obras que o Mestre Pedreiro José
Esteves tinha feito neste arruamento pois “… era uma das principais desta vila que se achava intransitável como se
declarou nos acórdãos anteriores, e hoje, com as obras, era uma das melhores da
vila”.
Em 1 de Agosto de 1840, era
Presidente da Câmara José Joaquim dos Santos Portela, foi decidido “… que se reparasse a rua de Sam Sebastião
desta vila e ali se examinasse com dois operários de Pedreiros os reparos que
esta precisa, a bem do trânsito público que no tempo de Inverno ancora as águas
nos baixios, tanto no leito como nos lados o que bem vistoriado pela Câmara o
seu estado de ruína e que no tempo de Inverno as águas bravias impedem de todo
o trânsito público sendo a principal entrada e saída da vila para se evitar a
ruína total da mesma rua é necessário formar dois andames, um do lado norte e
outro do lado sul o que também foi aprovado pelos dois operários, a vista do
que se assentou terem os ditos andames 5 palmos de largura, construídos de
pedra de alvenaria bem unida e argamassada, e pelos lados de fora uma fiada de
pedras de maior comprimento e largas e também bem unidas e faciadas do lado de cima
e pelo lado de fora”. Este arranjo compreendia o lanço a começar “… no loureiro da Cachada, junto ao Campo
Grande e findar à quina da Cadeia do dito lado. Pelo lado sul a principiar à
porta de João Lino e findar à esquina de Manuel Rosário de Sousa”. Quem
realizou estas obras foi o Mestre Pedreiro Aniceto Moreira, natural de Belinho,
pelo valor de 1700$000 reis.
Em 1855, na reunião de 18 de
Março, o Executivo procedeu “… à
arrematação da obra da calçada da Rua de S. Sebastião desta vila”. A obra
foi entregue ao Mestre Pedreiro António de Jesus Ferreira, de Fão, pelo valor
de 2$400 reis a braça. A calçada ia da porta de João Fernandes da Costa até ao
cano junto da porta de D. Maria da Natividade. Esta rua foi, de novo, calcetada
“ … desde o começo da estrada nova até à
rua Direita”, em 20 de Dezembro de 1863. Foi Vicente Moimenta, Mestre
Pedreiro de Fão, quem realizou a obra pelo valor de 390$000 reis. O projecto
desta pavimentação foi elaborado por José Pedro da Silva Costa, então Chefe da
Secção de Estradas de Esposende e Barcelos. Dessa mesma obra constava um
aqueduto para passagem de águas pluviais que afluíam dos campos, com 25 cm de alto e 40 de largo.
A calçada devia ser de pedra miúda e, de 10 em 10 metros deviam ser
colocadas fiadas transversais de cantaria.
Em 16 de Agosto de 1884, era
Presidente da Câmara Manuel António de Barros Lima, foi posta em arrematação
pública várias obras a realizar na então Rua de S. Sebastião. O projecto destes
melhoramentos, que incluíam alguns alinhamentos de prédios urbanos e rústicos,
foi de autoria de Feliciano José da Mota[4]. A
base de licitação foi de 112$000 reis e, por apresentar melhor preço, foi
entregue a António Moreira, natural de Vila Cova, concelho de Barcelos.
Em 9 de Março de 1895, era
Presidente da Câmara Manuel Rodrigues Viana, foi pedido ao pregoeiro da Câmara
Ricardo do Espírito Santo, que lançasse na praça pública o pregão
correspondente ao calcetamento da Rua Castro Monteiro. A base de licitação era
de 200 reis por metro quadrado de calceta. O menor lance foi dado pelo Mestre
Pedreiro António Gonçalves Calheiros, natural de Marinhas, que se obrigava a
fazer este trabalho por 190 reis o m2. Dada a mudança no executivo camarário,
somente em Setembro de 1895 é que lhe foi adjudicado o trabalho. Curiosamente
quem serviu de fiador a este Mestre Pedreiro foi um outro Mestre, de grande
nomeada, chamado António Fernandes Ribeiro, que, nessa altura, morava em
Esposende.
Um dos grandes campos que fazia
face com esta rua e com a Vilela dos Açougues era pertença do P.e Carlos Maria
de Passos Pereira Maciel que aqui tinha a sua casa e aqui morava. Aquando as
obras de calcetamento, em 1895, e dado que o piso tinha subido bastante, quer
nesta rua quer na Rua da Amargura, as águas que então tinham o curso normal pelo
boeiro em direcção à dita viela, passaram a acumular-se no campo daquele
clérigo. Este apresentou uma queixa na Câmara obrigando esta a proceder à
canalização das águas entre a Rua Castro Monteiro e a Rua da Amargura. Foi, sem
dúvida, o primeiro ensaio para a drenagem de águas pluviais em Esposende e o
seu autor foi o já referido Feliciano José da Mota.
Em 1910, na reunião de Câmara de
27 de Agosto, o executivo reconhecendo que este arruamento era “… uma das principais e mais movimentadas da
nossa terra” e que os Esposendenses tinham razão em solicitar, com
urgência, a sua remodelação “… pois de
facto o estado de ruína em que se encontra é deveras lastimável e grandemente
perigosa para os veículos que por ali passam e que outro caminho não têm para
escolher e seguir porque nenhuma outra via de comunicação nos liga Á Vila de
Barcelos … a rua não tem um único bocado que possa ser aproveitado, um metro
quadrado de calcetaria que seja, que não necessite de reforma.” É neste
sentido que o Presidente da Câmara propôs que fosse totalmente reconstruído o
pavimento da Rua Castro Monteiro “… pelo
sistema de empedramento de macdam visto considerar este de melhores vantagens
“. O projecto exigia que a rua tivesse 3 metros livres para a circulação e uma
guia de calcetaria com 50 cm de largo de cada lado para passeio.
Estas obras não terão ficado em
condições pois que em 1911 o pavimento já se encontrava, de novo, em muito mau
estado e, por isso, foi urgente proceder a novas reparações. Como causa dessa
deterioração apontavam-se os caleiros das casas.
Terá sido aí por 1911 que esta
rua passou a designar-se por RUA 15 DE
AGOSTO, não só pelo facto de que nessa data se festejava Nossa Senhora da
Saúde mas, por erro histórico, se pensava que a data da Carta Régia dado pelo
Rei D. Sebastião era datada de 15 de Agosto.
Aliás este dado fica claro
através da proposta que o Presidente da Câmara Firmino Clementino Loureiro, em
31 de Julho de 1911, faz ao executivo, estando presente o Administrador do
Concelho Dr. João Caetano da Fonseca Lima, em que disse “… finalmente resolveu unanimemente que para o feriado oficial deste
concelho, permitido por um Decreto recente do Governo, fosse escolhido o dia 15
de Agosto, data solene da concessão do foral de vila a Esposende, visto ser para
esta vila e concelho a efeméride histórica mais gloriosa”. Curiosamente
este erro histórico só é reparado na reunião extraordinária da Câmara de 14 de
Agosto de 1972 a qual decidiu, por unanimidade, propor a data de 19 de Agosto
como dia do Feriado Municipal, solicitando a sua oficialização ao Ministro do
Interior[5].
Esta rua em 1922 estava em tão
mau estado que mais parecia “… um atoleiro do lugarejo mais sertanejo das
nossas aldeias “. Encontrava-se repleta de charcos e praticamente intransitável.
Na reunião de Câmara de 18 de
Janeiro de 1926, sob a presidência do Dr. Alexandre Henrique Torres, foi
deliberado proceder ao arranjo da Rua 15 de Agosto pois “… encontrava-se em péssimo estado de conservação e quase intransitável”.
Em Novembro de 1945 visitaram
oficialmente Esposende o Ministro do Interior Tenente-Coronel Botelho Moniz que
vinha acompanhado pelo Secretário de Estado da Assistência Dr. Joaquim Trigo de
Negreiros. A Câmara congratulou-se com esta visita e na reunião do executivo de
7 de Novembro daquele ano exararam um voto de louvor e gratidão àqueles
estadistas. É claro que Joaquim Trigo de Negreiros tinha uma ligação mais
íntima a Esposende e a isto não terá sido alheio o que se passou na reunião de
Câmara de 13 de Julho de 1955 que, por proposta do Presidente António José da
Costa Leme, o executivo deliberou por unanimidade dar nova designação à rua 15
de Agosto que passou a chamar-se RUA DR.
TRIGO DE NEGREIROS[6].
A proposta foi feita nos seguintes termos: - “ … e no disposto no N.º 4 do Art. 50 do Código Administrativo, dar a uma
das principais ruas desta Vila, que vai da Praça do Município ao Parque da
Senhora da Saúde o nome muito ilustre do Excelentíssimo Senhor Doutor Joaquim
Trigo de Negreiros, actual Ministro do Interior, Antigo Conservador do Registo
Predial em Esposende e grande e devotado amigo desta terra, como preito de
muita estima, respeito e gratidão “.
[1] -
Esta Avenida, não constando da Toponímia actual da Cidade de Esposende,
compreendia ou compreende ainda, o que poderemos designar por Alameda da
Capela, desde a Estrada N. 13 e a porta principal da Capela. Em 15 de Maio de
1897 o P.e Carlos Maria de Passos Pereira Maciel pediu autorização À Câmara “
para colocar um cruzeiro no caminho em frente à Capela de Nossa Senhora da
Soledade desta vila, no sítio que lhe for designado”. A Câmara deliberou, em 29
de Maio desse ano, que o mesmo fosse colocado em frente à entrada do prédio de
Lourenço da Costa Leitão.
Em sessão de 3 de Setembro
de 1904, sob a Presidência do Cónego José Manuel de Sousa, foi apresentado um
requerimento da Junta de Paróquia de Esposende, datado de 3 de Agosto de 1904,
no qual se declara que a Junta de Paróquia, na sua reunião de 10 de Julho,
deliberou solicitar à Câmara para que a Avenida onde está localizada a Capela
de Nossa Senhora da Saúde/Soledade, fosse dado o nome de AVENIDA BARROS LIMA.
Justificavam este pedido pelo facto de ter sido Manuel António de Barros Lima
um benemérito para Esposende e mormente o que mais concorreu para que o local
da Senhora da Saúde fosse aformoseado e melhorado. A Câmara votou
favoravelmente esta petição e autorizou que a Junta de Paróquia aí colocasse a
placa indicativa. Julgamos, pelos documentos que lemos, ter sido por parte da
Câmara uma atitude demasiado alheia e desinteressada. No momento da colocação
da placa toponímica ninguém da Câmara se fez representar, o que é, no mínimo,
estranho.
Xavier Viana descreveu esta
Avenida da seguinte forma: “… Era pequeno
o adro, uma casa afeiava-o, obras indispensáveis tinham a fazer-se e logo uma
comissão se organizava e eis o adro maior. Uns cedem porções grandes de terreno
… outros concorrem com avultadas quantias. Plantam-se árvores, assentam-se
bancos, macdamizam-se caminhos, aformoseiam-se os muros e eis pronto e bonito
um formoso arraial, em breves anos com uma lindíssima alameda a convidar-nos a
um passeio ameno…” (in”Senhora da Saúde, 1906” ).
[2] -
SOUSA, Mons. Manuel Baptista de – História Religiosa da Paróquia de Santa Maria
dos Anjos: Cidade de Esposende, Vol. I (Fasc. II – Capela de Nossa Senhora da
Saúde), 2.ª Ed., Esposende, 2000
[3] - De nome completo Francisco de Castro Gomes
Monteiro.
(Tenho
algumas Cartas dele. Foi-lhe dada a rua aí por volta de 1886).
Foi
Deputado pelo Círculo onde Esposende se incluía, em 1881, e a ele se deve o
grande empenho para a construção da Ponte de Fão sobre o Cávado.
[4] -
Feliciano José da Mota era Medidor Oficial da Câmara. Era a quem a Câmara
recorria para fazer os alinhamentos necessários para implantação de novos prédios
ou os que solicitavam licença para reconstrução. Curiosamente por este trabalho
a Câmara não lhe pagava qualquer remuneração. Este encarregado de fiscalizar os
trabalhos da construção da estrada N.º 1 entre o Rio Cávado e o Rio Neiva. Em 5
de Outubro de 1881 foi nomeado Chefe dos Cantoneiros da Câmara de Esposende.
Foi exonerado dos serviços da Câmara em 8 de Agosto de 1885. Nessa altura a
Câmara pediu-lhe que devolvesse os mapas e documentos que eram propriedade da
Câmara.
Foi readmitido ao serviço e
sabe-se que em Abril de 1887 continuava a ser responsável pelos alinhamentos.
Faleceu em Julho de 1887.
[5] -
Solicitaram ainda que a publicação oficial no Diário da República fosse feira
precisamente no dia 19 de Agosto – dia em que se comemorava o IV Centenário da
elevação de Esposende a Vila e criação do Concelho.
[6] - Na
remodelação governamental levada a efeito por Salazar no Verão de 1940, Joaquim
Trigo de Negreiros substitui Manuel Rebelo de Andrade como Subsecretário das
Corporações e Previdência Social. Em 2 de Agosto de 1950 Salazar anuncia um
novo Gabinete Ministerial e Trigo de Negreiros “ … homem de muitos contactos,
conhecedor dos ambientes de província, e astuto em combinações de antecâmara e
no cultivo de simpatias”, é nomeado Ministro do Interior. Após as eleições
presidenciais de 1958, era inevitável a saída de Trigo de Negreiros “… queimado
pela campanha presidencial”, do Ministério do Interior, sendo substituído por
José Pires Cardoso.
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