sábado, 1 de junho de 2019

UM FIM DE TARDE DIFERENTE

Ontem tive o incomensurável prazer de passar um bom par de horas na cavaqueira e a recordar bons tempos na casa de um bom amigo escultor. Bastava esse facto para já ter valido bem a pena este meu fim de tarde.
Acontece, porém, que na casa onde estive sentia-se um halo diferente. Não era somente a sua estrutura arquitectónica secular que nos levava a finais do século XIX, ou mesmo a imaginar o frenesim de um período balnear em estância rica e elitista que mexia com a energia do espaço. Era mais do que isso. A casa, os espaços, o jardim, o anexo, alguns objectos, até os silêncios, nos fizeram recuar até ao primeiro quartel de novecentos. Aí sentimos a presença de grandes artistas. Não os vimos, não os ouvimos mas, de facto, eles estavam presentes.
Quem? É razoável que perguntem.
Com o começo da Primeira Grande Guerra muita gente se refugiou dos teatros de guerra. Muitos vieram para Portugal. Um desses artistas refugiados foi precisamente Robert Delaunay (1885 – 1941), um artista francês que usava o abstracionismo e o cubismo no seu trabalho e sua mulher Sonia Delaunay (1885 – 1979), pintora, designer, figurinista e cenógrafa ucraniano-francesa. Com eles vinha seu filho Charles. Robert a convite de Kandinsky integrou o grupo “O Cavaleiro Azul” formado por artistas abstratos de Munique. Fixaram residência na sua “Simultané”, uma casa de arquitectura interessante em zona frente ao mar. Era nesta casa que recebiam visitas constantes de amigos portugueses, grandes mestres, - Amadeo de Souza-Cardoso, Almada Negreiros, Samuel Halpert e Eduardo Viana. Não falamos com eles mas, tenho a certeza, que ouviram as nossas conversas de fim de tarde.






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