VIII
QUINTA DE PREGAIS
FORJÃES – ESPOSENDE

Se atentarmos numa inscrição
cravada na face exterior do muro que defende o solar pelo lado nascente, a
Quinta de Pregais remonta à fundação da nacionalidade, já que teria sido um tal
Guterres - para alguns o fundador do mosteiro de Carvoeiro - quem teria
erguido, no ano de 1100, uma torre que viria a ruir muito depois, por volta de
1600.
Se a quinta foi pertença
do fundador do mosteiro de Carvoeiro, taxativamente não o podemos afiançar, mas
podemos afirmar que documentalmente tal propriedade ia existia no séc. XIII,
pois vem descrita e referida como terra arada nas Inquirições que o rei D.
Dinis mandou efectuar: “item e na freguezia de sancta marinha de Frogaes no
logar que chamam/Svariz soya y entar o porteiro da terra e ora no leixam y
entrar/Rodriga Afonsso e Martim Sardinha porque eu mando da pane d’ El / Rey
que entre y o porteiro da terra e no logar que chamam Pedragaes”(A.N.T.T.,
0166, Inq. D. Dinis, 1.3,Casa Forte, fls.7).
Que a quinta era uma
propriedade senhorial, também temos disso a comprovação, pois na mesma altura ela
é descrita como Sendo um paço: “item achey no livro de loham Cesar e no rol de
loham Dominguiz que achara que soya entrar o porteyro/no paaço de Pedregaes y o
moordomomo d’ El Rey na aldea e asy mandarom que entrasse hy” (A.N.T.T.o275,
Inq. D. Dinis, 1.8, Casa Forte, fls.26v).
Independentemente da
sua antiguidade, o actual edifício é uma construção em L, conjunto que denota
uma filiação setecentista bem expressa, aliás, na fachada da capela que lhe
está acoplada pelo lado norte. Se os elementos arquitectónicos não fossem tão explícitos,
haveria ainda a provisão passada pelo Arcebispo de Braga em 1756 a Dom Diogo de
Jesus Maria (clérigo) e seu irmão Antonio José Maciel para que pudessem erigir
e edificar, de novo, uma capela a Nossa Senhora do Rosário na sua Quinta de
Pregais: “fazer huma capella junto a Suas cazas e quinta de Pregais freguezia de
Santa Marinha para nella ouvirem missa celebrarem os ofícios divinos em honra e
glória de Deus e dos seus santos e ainda fazerem melhoramentos ao vínculo de
Morgado que instituo elle Antonio José Maciel e seu irmão da dita quinta e
outros mais bens livres que elle Dom Diogo de Jesus Maria quer aplicar para
ficar unidos todos a ella dita Capella". Concluída a obra, a fábrica da
capela ficava com os seguintes bens: o Campo da Cortinha de Dentro, o Campo da
Cortinha do Valo e o Campo do Pombal, todos eles situados dentro da “dita
quinta”. A estes terrenos juntavam-se ainda o campo que haviam comprado a Roque
Ferros, um souto de carvalhos e um outro de sobreiros, todos eles situados em
redor da Coutada da Mata (ADB, RG, 147, fls. 208-210).
Do lado de dentro,
estende-se um amplo terreiro para o qual dá a escadaria principal, adossada à
parede e a partir da qual se ascende a uma pequena varanda, lajeada e coberta
com um telhado sustentado por uma colunata com capitéis de tipo dórico. Sobre o
portão principal, um brasão com as armas dos Carneiros de Vila do Conde, família
que, em 1916, vendeu casa conjuntamente com a parte agrícola e de monte a
Antonio Rodrigues Alves de Faria.

Salienta-se aqui a
porta principal, com austera moldura em granito, de recorte classissizante e
madeira almofadada cujo talhe denota o gosto setecentista.
A fachada da casa
voltada a poente e sóbria, com pequenos postigos rectangulares ao nível da
loja, aberta com três varandas e duas janelas no segundo piso.
Estas, com molduras graníticas
simples, estão encimadas por beirais ondulados, de granito destacado. Ainda nas
traseiras, abre-se a entrada para a cozinha, com um pequeno corpo destacado, de
cércea mais baixa, rusticado, com acesso ao segundo piso por uma escada de um
só lance.
Como casa de lavoura
que era, a quinta possuía casas destinadas aos caseiros, separadas por uma
parede que delimitava o espaço do terreiro pelo lado meridional e uma eira
cimentada, que acompanha um antigo varandao, muito alterado e que não confere
grande dignidade ao conjunto. Pelo contrário, o arco abatido sob um pequeno solário
no prolongamento do alçado sul que, do terreiro, dá acesso as traseiras do edifício,
conjuga-se com a arquitectura da casa. As antigas casas dos caseiros foram, por
sua vez, substituídas por outras de confecção mais recente e que perderam
qualquer relação com o primitivo conjunto setecentista.

Com um exterior
enobrecido pela pedra de armas dos Barbosas ladeada por volutas e cuminada por
uma esfera onde assenta uma cruz, esta construção oferece a apreciação exterior
um muro alto, rebocado, pontuado com ameias de uma água e sineira assente sobre
plinto com volutas junto à fachada da capela. A sineira granítica, rematada por
frontão curvo interrompido, está coroada com um remate de forma globular. Nesta
mesma parede ameada sobressai a já mencionada cartela - Pedra da antiga e privilegiada
torre feita por D. Guterre no ano de 1100 e caída no ano de 16oo - e um modilhão
em forma de cara humana, resquício de uma construção românica que remonta à
primeira dinastia.
(Almeida,
Brochado de – Santa Marinha de Forjães, 2001)
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