sexta-feira, 4 de abril de 2014

VIII
QUINTA DE PREGAIS
FORJÃES – ESPOSENDE





A Quinta de Pregais era, ainda em meados deste século, uma extensa e florescente propriedade agrícola. Com a morte do seu proprietário, o dono da Quinta de Curvos, foram os Campos de cultivo e área de monte retalhados pelos herdeiros enquanto o solar avolumava o já decrépito estado de degradação. Só anos mais tarde, na década de 60, a situação se inverteu, quando o Sr. Soares Teixeira, a comprou e iniciou o seu restauro.
Se atentarmos numa inscrição cravada na face exterior do muro que defende o solar pelo lado nascente, a Quinta de Pregais remonta à fundação da nacionalidade, já que teria sido um tal Guterres - para alguns o fundador do mosteiro de Carvoeiro - quem teria erguido, no ano de 1100, uma torre que viria a ruir muito depois, por volta de 1600.
Se a quinta foi pertença do fundador do mosteiro de Carvoeiro, taxativamente não o podemos afiançar, mas podemos afirmar que documentalmente tal propriedade ia existia no séc. XIII, pois vem descrita e referida como terra arada nas Inquirições que o rei D. Dinis mandou efectuar: “item e na freguezia de sancta marinha de Frogaes no logar que chamam/Svariz soya y entar o porteiro da terra e ora no leixam y entrar/Rodriga Afonsso e Martim Sardinha porque eu mando da pane d’ El / Rey que entre y o porteiro da terra e no logar que chamam Pedragaes”(A.N.T.T., 0166, Inq. D. Dinis, 1.3,Casa Forte, fls.7).
Que a quinta era uma propriedade senhorial, também temos disso a comprovação, pois na mesma altura ela é descrita como Sendo um paço: “item achey no livro de loham Cesar e no rol de loham Dominguiz que achara que soya entrar o porteyro/no paaço de Pedregaes y o moordomomo d’ El Rey na aldea e asy mandarom que entrasse hy” (A.N.T.T.o275, Inq. D. Dinis, 1.8, Casa Forte, fls.26v).
Falta de comprovação material e documental há quanto à existência de uma torre, ruída na era de 1600 consoante o diz a inscrição da cartela cravada na parede exterior da quinta: “Pedra da antiga e privilegiada torre feita por D. Guterre no ano de 1100 e caída no ano de 1600”. No entanto e tratando-se de uma quinta honrada, isto é, de uma casa senhorial, um paço, que até se dava ao luxo de impedir a fiscalização dos representantes locais do rei, é bem possível que tal torre existisse. Outras conseguiram chegar até a actualidade, em propriedades semelhantes documentadas em várias terras do Entre-Douro-e-Minho. Menos sustentável será a tradição que aponta o nascimento na quinta de Frei Gonçalo Velho - da estirpe dos Velhos de Viana do Castelo – descobridor da Terra Alta na costa africana e mais visionária será ainda a notícia de aqui, esporadicamente, ter pernoitado Nuno Álvares Pereira.
Independentemente da sua antiguidade, o actual edifício é uma construção em L, conjunto que denota uma filiação setecentista bem expressa, aliás, na fachada da capela que lhe está acoplada pelo lado norte. Se os elementos arquitectónicos não fossem tão explícitos, haveria ainda a provisão passada pelo Arcebispo de Braga em 1756 a Dom Diogo de Jesus Maria (clérigo) e seu irmão Antonio José Maciel para que pudessem erigir e edificar, de novo, uma capela a Nossa Senhora do Rosário na sua Quinta de Pregais: “fazer huma capella junto a Suas cazas e quinta de Pregais freguezia de Santa Marinha para nella ouvirem missa celebrarem os ofícios divinos em honra e glória de Deus e dos seus santos e ainda fazerem melhoramentos ao vínculo de Morgado que instituo elle Antonio José Maciel e seu irmão da dita quinta e outros mais bens livres que elle Dom Diogo de Jesus Maria quer aplicar para ficar unidos todos a ella dita Capella". Concluída a obra, a fábrica da capela ficava com os seguintes bens: o Campo da Cortinha de Dentro, o Campo da Cortinha do Valo e o Campo do Pombal, todos eles situados dentro da “dita quinta”. A estes terrenos juntavam-se ainda o campo que haviam comprado a Roque Ferros, um souto de carvalhos e um outro de sobreiros, todos eles situados em redor da Coutada da Mata (ADB, RG, 147, fls. 208-210).
Do lado de dentro, estende-se um amplo terreiro para o qual dá a escadaria principal, adossada à parede e a partir da qual se ascende a uma pequena varanda, lajeada e coberta com um telhado sustentado por uma colunata com capitéis de tipo dórico. Sobre o portão principal, um brasão com as armas dos Carneiros de Vila do Conde, família que, em 1916, vendeu casa conjuntamente com a parte agrícola e de monte a Antonio Rodrigues Alves de Faria.
Em termos arquitectónicos a casa da Quinta é uma construção em L, com a fachada principal voltada a Nascente. Está rebocada, pintada de branco e possui a dois pisos, sendo o segundo mais vocacionado para habitação. A partir do terreiro, existe, no ângulo interior do edifício, o acesso a este andar, através de uma escada de granito, de um só lance, com corrimão lavrado, que desemboca num balcão avançado e rusticado, aberto com dois arcos bem lançados no piso térreo. Este balcão, sóbrio, adossado a fachada nascente, é abrigado por um telhado assente sobre elegantes colunas circulares e uma pilastra almofadada.
Salienta-se aqui a porta principal, com austera moldura em granito, de recorte classissizante e madeira almofadada cujo talhe denota o gosto setecentista.
A fachada da casa voltada a poente e sóbria, com pequenos postigos rectangulares ao nível da loja, aberta com três varandas e duas janelas no segundo piso.
Estas, com molduras graníticas simples, estão encimadas por beirais ondulados, de granito destacado. Ainda nas traseiras, abre-se a entrada para a cozinha, com um pequeno corpo destacado, de cércea mais baixa, rusticado, com acesso ao segundo piso por uma escada de um só lance.
Como casa de lavoura que era, a quinta possuía casas destinadas aos caseiros, separadas por uma parede que delimitava o espaço do terreiro pelo lado meridional e uma eira cimentada, que acompanha um antigo varandao, muito alterado e que não confere grande dignidade ao conjunto. Pelo contrário, o arco abatido sob um pequeno solário no prolongamento do alçado sul que, do terreiro, dá acesso as traseiras do edifício, conjuga-se com a arquitectura da casa. As antigas casas dos caseiros foram, por sua vez, substituídas por outras de confecção mais recente e que perderam qualquer relação com o primitivo conjunto setecentista.
Orientado no sentido nascente-sul, todo o conjunto está fechado por um alto muro ameado no qual se abre um portão armoriado coroado pela pedra de armas dos Barbosas (Fonseca, 1936, 170). Transposto o portão abre-se um amplo terreiro pontuado por tufos de hortênsias e japoneiras e a modos que quase esquecida, a sólida pia trilobada de um fontanário que não existe. Ainda junto a parede da casa ergue-se um cruzeiro num pódio inserido entre duas portas da loja, que ostenta uma cruz fasciculada, assente num plinto com volutas datado de 14 de Junho de 1975, numa clara tentativa decorativa de sugerir uma ancestralidade oitocentista que a data não apoia.
Com um exterior enobrecido pela pedra de armas dos Barbosas ladeada por volutas e cuminada por uma esfera onde assenta uma cruz, esta construção oferece a apreciação exterior um muro alto, rebocado, pontuado com ameias de uma água e sineira assente sobre plinto com volutas junto à fachada da capela. A sineira granítica, rematada por frontão curvo interrompido, está coroada com um remate de forma globular. Nesta mesma parede ameada sobressai a já mencionada cartela - Pedra da antiga e privilegiada torre feita por D. Guterre no ano de 1100 e caída no ano de 16oo - e um modilhão em forma de cara humana, resquício de uma construção românica que remonta à primeira dinastia.
(Almeida, Brochado de – Santa Marinha de Forjães, 2001)

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