VIII
QUINTA DE PREGAIS
FORJÃES – ESPOSENDE
A Quinta de Pregais
era, ainda em meados deste século, uma extensa e florescente propriedade agrícola.
Com a morte do seu proprietário, o dono da Quinta de Curvos, foram os Campos de
cultivo e área de monte retalhados pelos herdeiros enquanto o solar avolumava o
já decrépito estado de degradação. Só anos mais tarde, na década de 60, a situação
se inverteu, quando o Sr. Soares Teixeira, a comprou e iniciou o seu restauro.
Se atentarmos numa inscrição
cravada na face exterior do muro que defende o solar pelo lado nascente, a
Quinta de Pregais remonta à fundação da nacionalidade, já que teria sido um tal
Guterres - para alguns o fundador do mosteiro de Carvoeiro - quem teria
erguido, no ano de 1100, uma torre que viria a ruir muito depois, por volta de
1600.
Se a quinta foi pertença
do fundador do mosteiro de Carvoeiro, taxativamente não o podemos afiançar, mas
podemos afirmar que documentalmente tal propriedade ia existia no séc. XIII,
pois vem descrita e referida como terra arada nas Inquirições que o rei D.
Dinis mandou efectuar: “item e na freguezia de sancta marinha de Frogaes no
logar que chamam/Svariz soya y entar o porteiro da terra e ora no leixam y
entrar/Rodriga Afonsso e Martim Sardinha porque eu mando da pane d’ El / Rey
que entre y o porteiro da terra e no logar que chamam Pedragaes”(A.N.T.T.,
0166, Inq. D. Dinis, 1.3,Casa Forte, fls.7).
Que a quinta era uma
propriedade senhorial, também temos disso a comprovação, pois na mesma altura ela
é descrita como Sendo um paço: “item achey no livro de loham Cesar e no rol de
loham Dominguiz que achara que soya entrar o porteyro/no paaço de Pedregaes y o
moordomomo d’ El Rey na aldea e asy mandarom que entrasse hy” (A.N.T.T.o275,
Inq. D. Dinis, 1.8, Casa Forte, fls.26v).
Falta de comprovação
material e documental há quanto à existência de uma torre, ruída na era de 1600
consoante o diz a inscrição da cartela cravada na parede exterior da quinta:
“Pedra da antiga e privilegiada torre feita por D. Guterre no ano de 1100 e caída
no ano de 1600”. No entanto e tratando-se de uma quinta honrada, isto é, de uma
casa senhorial, um paço, que até se dava ao luxo de impedir a fiscalização dos
representantes locais do rei, é bem possível que tal torre existisse. Outras
conseguiram chegar até a actualidade, em propriedades semelhantes documentadas
em várias terras do Entre-Douro-e-Minho. Menos sustentável será a tradição que
aponta o nascimento na quinta de Frei Gonçalo Velho - da estirpe dos Velhos de
Viana do Castelo – descobridor da Terra Alta na costa africana e mais visionária
será ainda a notícia de aqui, esporadicamente, ter pernoitado Nuno Álvares
Pereira.
Independentemente da
sua antiguidade, o actual edifício é uma construção em L, conjunto que denota
uma filiação setecentista bem expressa, aliás, na fachada da capela que lhe
está acoplada pelo lado norte. Se os elementos arquitectónicos não fossem tão explícitos,
haveria ainda a provisão passada pelo Arcebispo de Braga em 1756 a Dom Diogo de
Jesus Maria (clérigo) e seu irmão Antonio José Maciel para que pudessem erigir
e edificar, de novo, uma capela a Nossa Senhora do Rosário na sua Quinta de
Pregais: “fazer huma capella junto a Suas cazas e quinta de Pregais freguezia de
Santa Marinha para nella ouvirem missa celebrarem os ofícios divinos em honra e
glória de Deus e dos seus santos e ainda fazerem melhoramentos ao vínculo de
Morgado que instituo elle Antonio José Maciel e seu irmão da dita quinta e
outros mais bens livres que elle Dom Diogo de Jesus Maria quer aplicar para
ficar unidos todos a ella dita Capella". Concluída a obra, a fábrica da
capela ficava com os seguintes bens: o Campo da Cortinha de Dentro, o Campo da
Cortinha do Valo e o Campo do Pombal, todos eles situados dentro da “dita
quinta”. A estes terrenos juntavam-se ainda o campo que haviam comprado a Roque
Ferros, um souto de carvalhos e um outro de sobreiros, todos eles situados em
redor da Coutada da Mata (ADB, RG, 147, fls. 208-210).
Do lado de dentro,
estende-se um amplo terreiro para o qual dá a escadaria principal, adossada à
parede e a partir da qual se ascende a uma pequena varanda, lajeada e coberta
com um telhado sustentado por uma colunata com capitéis de tipo dórico. Sobre o
portão principal, um brasão com as armas dos Carneiros de Vila do Conde, família
que, em 1916, vendeu casa conjuntamente com a parte agrícola e de monte a
Antonio Rodrigues Alves de Faria.
Em termos arquitectónicos
a casa da Quinta é uma construção em L, com a fachada principal voltada a
Nascente. Está rebocada, pintada de branco e possui a dois pisos, sendo o segundo
mais vocacionado para habitação. A partir do terreiro, existe, no ângulo
interior do edifício, o acesso a este andar, através de uma escada de granito,
de um só lance, com corrimão lavrado, que desemboca num balcão avançado e
rusticado, aberto com dois arcos bem lançados no piso térreo. Este balcão, sóbrio,
adossado a fachada nascente, é abrigado por um telhado assente sobre elegantes
colunas circulares e uma pilastra almofadada.
Salienta-se aqui a
porta principal, com austera moldura em granito, de recorte classissizante e
madeira almofadada cujo talhe denota o gosto setecentista.
A fachada da casa
voltada a poente e sóbria, com pequenos postigos rectangulares ao nível da
loja, aberta com três varandas e duas janelas no segundo piso.
Estas, com molduras graníticas
simples, estão encimadas por beirais ondulados, de granito destacado. Ainda nas
traseiras, abre-se a entrada para a cozinha, com um pequeno corpo destacado, de
cércea mais baixa, rusticado, com acesso ao segundo piso por uma escada de um
só lance.
Como casa de lavoura
que era, a quinta possuía casas destinadas aos caseiros, separadas por uma
parede que delimitava o espaço do terreiro pelo lado meridional e uma eira
cimentada, que acompanha um antigo varandao, muito alterado e que não confere
grande dignidade ao conjunto. Pelo contrário, o arco abatido sob um pequeno solário
no prolongamento do alçado sul que, do terreiro, dá acesso as traseiras do edifício,
conjuga-se com a arquitectura da casa. As antigas casas dos caseiros foram, por
sua vez, substituídas por outras de confecção mais recente e que perderam
qualquer relação com o primitivo conjunto setecentista.
Orientado no sentido
nascente-sul, todo o conjunto está fechado por um alto muro ameado no qual se
abre um portão armoriado coroado pela pedra de armas dos Barbosas (Fonseca,
1936, 170). Transposto o portão abre-se um amplo terreiro pontuado por tufos de
hortênsias e japoneiras e a modos que quase esquecida, a sólida pia trilobada
de um fontanário que não existe. Ainda junto a parede da casa ergue-se um
cruzeiro num pódio inserido entre duas portas da loja, que ostenta uma cruz
fasciculada, assente num plinto com volutas datado de 14 de Junho de 1975, numa
clara tentativa decorativa de sugerir uma ancestralidade oitocentista que a
data não apoia.
Com um exterior
enobrecido pela pedra de armas dos Barbosas ladeada por volutas e cuminada por
uma esfera onde assenta uma cruz, esta construção oferece a apreciação exterior
um muro alto, rebocado, pontuado com ameias de uma água e sineira assente sobre
plinto com volutas junto à fachada da capela. A sineira granítica, rematada por
frontão curvo interrompido, está coroada com um remate de forma globular. Nesta
mesma parede ameada sobressai a já mencionada cartela - Pedra da antiga e privilegiada
torre feita por D. Guterre no ano de 1100 e caída no ano de 16oo - e um modilhão
em forma de cara humana, resquício de uma construção românica que remonta à
primeira dinastia.
(Almeida,
Brochado de – Santa Marinha de Forjães, 2001)
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