quarta-feira, 31 de agosto de 2011

SOLARES E QUINTAS DO CONCELHO DE ESPOSENDE


Por: Manuel Albino Penteado Neiva

III
A QUINTA DA BARCA

A HERÁLDICA DA QUINTA DA BARCA

Quinta da Barca por H. Korber
A Carta de Brasão de Armas foi passada a 12 de Novembro de 1743 [1]. Foi dada pelo Rei D. João V.
Trata-se de Heráldica de família, cujo escudo está assente numa cartela decorativa. Possui um elmo com virol , timbre e plumas. O escudo tem uma composição esquartelada cuja leitura é :
I - MACHADO
II - MIRANDA
III - PEREIRA
IV - VILAS - BOAS

O timbre é da Família Machado, possuindo uma brica com um trifólio.
Carta de Armas
Pela documentação e estudos consultados, sabe-se que este ilustre Senhor Manuel Machado de Miranda Pereira Vilas-Boas foi, em 1730, Capitão-Mór de Esposende e de 1729 a 1731, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Esposende. Filho de Bernardo Ferreira Machado e de Maria ( Urbana ?) Pereira Vilas-Boas, bisneto pela linha Paterna de Manuel Machado de Miranda Soares e este neto de David Miranda Soares, do Arco de Guimarães, e pela Materna neto de Francisco Pereira e 3º Neto de Miguel Pereira do Lago.
Aquando do casamento de Mariana Machado Miranda, da Casa do Craveiro, em Esposende - também brasonada e com as mesmas Armas, irmã do  Capitão-Mór Manuel Machado, com Francisco Ferreira Neves, natural de Gemeses, fixaram residência na Barca do Lago e aí, na sua Casa da Quinta da Barca, mandaram colocar a Pedra de Armas da Família.
Como  escreveu Luís Figueiredo da Guerra  " na Quinta da Barca há uma torre, e sobre o  portal do pátio está o Brasão dos Machados ... este brasão foi oficialmente registado na Câmara Municipal de Esposende em 19 de Maio de 1748 ".

 A QUINTA E AS INVASÕES FRANCESAS

General Soult
Aquando as Invasões francesas de princípios do século XIX, a Barca do Lago, mais precisamente a Quinta da Barca, ou também designada por Casa dos Valérios, serviu de Quartel General às tropas do General Soult.
Em fins de Março, princípios de Abril de 1809, a brigada do General Lorges, deixando Braga, passa por Barcelos, e vem proteger a já célebre Passagem da Barca, ponto estratégico para quem percorria os caminhos do litoral.
Enquanto permaneceram nesta localidade, instalaram-se na Casa dos Valérios e daqui fizeram as suas incursões nos povoados vizinhos "... pilhando o que puderam, levando consigo muitos valores, entre os quais uma cruz e uma custódia ... ".
Segundo escreveram alguns autores, "... profanaram a Capela da Barca do Lago, transformando-a em açougue ... "
Num registo de óbito, datado de 12 de Abril de 1809, escrevia-se o seguinte: "... mataram os soldados franceses no lugar da Barca do Lago, um pobre mendigo, chamado João Braz, que era do Reino da Galiza... " . Dois dias depois, a mesma sorte tocou ao Padre António Pereira do Lago - apelido ligado à Quinta da Barca, natural e residente em Gemeses, que encontrando-se frente aos franceses, não hesitaram em disparar, matando-o. 


O REI CARLOS ALBERTO DE ITÁLIA NA QUINTA DA BARCA

Rei Carlos Alberto de Itália
Quando o Rei Carlos Alberto abandona Itália, em 24 de Março de 1849, exilando-se na Cidade do Porto, segue um trajecto que passou pela Barca do Lago. Aqui pernoita, na Quinta da Barca, em 18 de Abril de 1849.
Este acontecimento ficou registado do Arquivo da Câmara Municipal de Esposende [2]  onde o Administrador do Concelho relata  que "... aí pela 1 da tarde, acompanhado pelo Capitão de Infantaria José Francisco Pereira ... procurei falar-lhe na qualidade de Administrador deste concelho e imediatamente me mandou franquear a entrada ... ofereci-lhe todo o auxílio e socorro que estivesse em harmonia com as possibilidades da terra, tanto para seu bem estar pessoal como para a continuação do seu trânsito ... É um homem bastante alto, magro, cor trigueira, rosto marilento e ensinuante e olhos vivos e penetrantes. Ainda muito ágil no andar e montar a cavalo. Vinha vestido de casacão preto e boné da mesma cor. "


[1] - Esta Carta de Brasão de Armas foi passada a Manuel Machado de Miranda Pereira, Sargento-Mór de Esposende.
Era filho de Bernardo Ferreira Machado e de Urbana Pereira de Vilas-Boas , sendo esta, por sua vez, filha de Francisco Pereira e bisneta de Miguel Pereira do Lago.

[2] - A . M.  E . - Livro de Correspondência, Nº 9, Carta 128 de 20 de Abril de 1849

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O CAMINHO DE SANTIAGO NO CONCELHO DE ESPOSENDE - UM CORREDOR CULTURAL –


O CAMINHO DE SANTIAGO NO CONCELHO DE ESPOSENDE
- UM CORREDOR CULTURAL – 
I


Por: Manuel Albino Penteado Neiva


“ Desde sempre o Homem procurou o trajecto mais curto e rápido nas suas deslocações. Presidia sempre a intenção de chegar com a maior prontidão ao destino”

ARAÚJO, José Rosa de – Caminhos Velhos e Pontes de Viana e Ponte de Lima, 1962



Introdução


Peregrino
Não é fácil, senão mesmo impossível, definir com rigor, qual o caminho ou caminhos que cruzavam Esposende e que correspondam, actualmente ao percurso utilizado pelos Peregrinos Compostelanos de então.
Esta afirmação prende-se com o facto de, ao longo dos séculos, a rede viária concelhia ter-se alterado com a abertura de novos percursos, com a construção de obras de arte que facilitaram a travessia de obstáculos difíceis, nomeadamente a passagem dos rios e à drenagem de terrenos pantanosos[1]. A este facto está ligada a abertura da primitiva estrada de circulação que cruzava o concelho de Norte a Sul, conhecida por todos como a Estrada Real. De facto, esta estrada aparece-nos a decalcar a chamada Plataforma Alta ou Arriba Recente que acompanha a Arriba de S. Lourenço, entre Palmeira de Faro e S. Paio de Antas. Para além de ser um terreno mais enxuto e, por isso, mais seguro para caminhantes e carruagens, percorria quase sempre a mesma cota o que se tornava menos cansativo.
Até 1835 cruzavam o concelho de Esposende duas estradas consideradas principais, embora em muito mau estado[2]. Uma que corria de Norte a Sul e servia “… para comunicação da Capital da Província do Douro com Viana …” e a outra “… que corre do Este a Leste e comunica a Vila de Esposende com a Capital da Província do Minho, ficando no seu trânsito a vila de Barcelos, cabeça de Julgado”. Sobre a estrada Porto -Viana pedia-se que fosse desenhado um novo traçado pois “… em algumas partes era medonho por ser despovoado e por entre densos pinheirais por isso ainda tem acontecido alguns roubos” pretendia-se que se dirigisse “… esta estrada por esta Vila seguindo pelo Poente dos campos do lugar de Cepães, freguesia de Marinhas, continuando pela de S. Bartolomeu do Mar e por fora dos campos a entrar na freguesia de Belinho, até à ponte de pau sobre a foz do Rio Neiva, sempre em linha recta”. Acrescentava-se que “… sairão desta alteração excelentes e prontos resultados por quanto o caminho ficará mais curto e os viajantes economizarão mais de uma hora de tempo no trânsito da Barca do Lago até Viana já pelo caminho ser mais curto, já por ser plano e até a segurança pessoal será em muito maior grau por ser uma estrada muito mais a descoberto”.
Certo é que, para todas as épocas teremos caminhos distintos, continuando, no entanto, os pontos de contacto entre eles mais precisamente as pontes, barcas de passagem e templos possuidores de relíquias ou túmulos de corpos santos.
Na falta de cartografia antiga que represente, com rigor as estradas e caminhos, pelo menos para períodos anteriores ao século XVIII, teremos que nos socorrer da documentação produzida pelas várias administrações locais, pelos relatos de peregrinações que se tornaram célebres[3], pelos textos dos memorialistas e, acima de tudo, pelo estudo atento da toponímia antiga e mesmo dos próprios vestígios arqueológicos. De tudo se deve retirar ensinamentos mas jamais pensar que se descobrirá a única via de passagem de peregrinos no concelho de Esposende.

Contexto Histórico

Livro de Horas de D. Manuel
É a partir do século IX que o culto a Santiago se vai afirmar e se vai tornar “ Protector das lutas da Reconquista[4]. Começam, ainda no século X, as grandes peregrinações ao túmulo de Santiago e Compostela torna-se num dos centros mais importantes da cristandade.
O seu culto difunde-se rapidamente pelas paróquias e muito próximo de nós, em Castelo do Neiva, aparece-nos a sagração da sua Igreja ao apóstolo Santiago, em 862[5], fazendo a seguinte invocação “ Em Nome do Senhor consagrou a Igreja do Apóstolo S.Tiago o Bispo D. Nausti… na era de 900 “.
Por todo o lado vamos encontrar a simbologia Jacobeia que nos permite identificar os percursos e caminhos que conduziam àquele centro de peregrinação. Para além da consagração de Igrejas ao Apóstolo, surgem-nos com frequência alguns dos seus atributos, nomeadamente a representação da vieira que lhe está associada, em pequenos nichos e templetes campestres.

O Prof. Doutor Humberto Baquero Moreno estudou profundamente os caminhos seguidos pelos Almocreves[6] e a sua importância no desenvolvimento das comunicações inter-regionais portuguesas ao longo da Idade Média[7]. Através dos roteiros feitos por estes viajantes conclui-se, e seguindo o pensamento do Prof. Manuel Riu[8], que até à Idade Média, as vias romanas continuaram a ser os caminhos de maior trânsito. Mas também não nos podemos esquecer que desde muito cedo o curso de peregrinos se fez por uma via, muitas vezes ignorada ou esquecida, que era a via do Atlântico. Como escreveu Baquero Moreno, tanto à cidade do Porto como a Viana, afluíam peregrinos vindos de outras paragens europeias que, chegados ao litoral, procuravam seguir a costa até à Galiza passando por Matosinhos, Mindelo, Azurara, Vila do Conde, Póvoa, Fão, Esposende, Viana e Caminha[9]. Seria um erro grave se nos esquecêssemos que já fomos, mais do que ninguém, uma terra de marinheiros e homens do mar, especialistas em navegação de cabotagem e o mar era, para esses homens, um caminho fácil, rápido e seguro. O Arq.to Lixa Filgueiras[10] afirma que “ quando se fala de Santiago de Compostela, normalmente, as pessoas lembram-se de imediato “do” ou “dos” caminhos – de terra claro, e esquecem todos quantos os que, por mar, chegam ao lugar santo”. Também Paulo Pereira[11] aponta o caminho marítimo para Santiago, dizendo que “… era fácil fazer uma viagem dessas usando como portos de acostagem as terras do litoral”.
Se olharmos atentamente a documentação medieval – nomeadamente as inquirições régias Afonsinas do século XIII, vamos encontrar no concelho de Esposende um quadro assinalável de possessões e terras de Ordens Religiosas, nomeadamente as terras do litoral (Apúlia, Fão, Esposende, Gandra, Marinhas, Mar, Belinho e Antas). A maior parte dos casais de Gandra e Marinhas eram pertença de mosteiros tais como o de Banho, S.ta Maria do Bouro, Vilar de Frades, etc[12]. Apúlia manteve-se, durante séculos, como Couto dos Arcebispos de Braga. Por todo este apoio religioso – como seria de esperar, é evidente a procura destas terras por parte dos peregrinos de Santiago.
Carlos A. Ferreira de Almeida[13] estudou minuciosamente a estrada medieval que saindo da Ponte de Ave – construída no tempo de Afonso Henriques, seguia pela Barca do Lago até atingir o Rio Lima. Segundo este eminente arqueólogo e medievalista “ esta estrada, também costeira, é muito mais seguida, sobretudo nas ligações inter-regionais”. Depois de sair da Ponte de Ave, seguia para S. Simão da Junqueira – onde havia um mosteiro desde o século XI (1084), dirigia-se para a Ponte dos Arcos – referenciada em 1136 e alcançava Rates. Aqui chegados os peregrinos visitavam este cenóbio pois nele estavam depositadas as relíquias de S. Pedro de Rates[14]. Visita cumprida, os peregrinos poderiam seguir dois caminhos distintos. Um que se dirigia para a Barca do Lago, o outro que tomava a direcção de Barcelos, passando por Pedra Furada, Pereira, Alvelos[15] e Barcelinhos[16]. A este caminho procurou-se, em 1488, juntar umas santas relíquias de forma a lhe acrescentar uma mais valia. Assim, e segundo Frei Manuel da Esperança[17]junto ao túmulo da Santa Duquesa D. Constança de Noronha, em Barcelos, tudo estava cercado de muitas ofertas: a saber de cera, e pano de linho, e bizalhos de terra atados, e mãos e queixadas, e dentes de cera, e pés, e outras muitas ofertas[18].
Cadafaz de Matos[19] quando aborda a questão do Caminho de Santiago do Noroeste Português afirma que “para quem vem, da Póvoa de Varzim, siga em direcção ao norte, utilizando o itinerário (à beira-mar) outrora utilizado pelos peregrinos compostelanos, terá como pontos obrigatórios de percurso A-ver-o-mar, Estela, antes de atingir a interessante zona da Apúlia … de Apúlia em direcção a Viana do Castelo, o peregrino visita, então, as localidades de Fão e Esposende … “. Este itinerário já tinha sido defendido pelo Conde de Aurora[20] que o designou por Caminho do Litoral ou Caminho do Noroeste. Registe-se que em Apúlia vamos encontrar como elementos decorativos de um nicho de alminhas (séc. XVIII) toda a simbologia Jacobeia. Também no Livro de Óbitos de Fão de 1751 se registou que “… Catarina Ximenes, de nação castelhana, casada com André Gomes … do bispado do Reino de Granada, romeira peregrina para Santiago da Galiza e chegando a esta freguesia … e recolhendo-se no Hospital da Santa Casa dela e nele com todos os sacramentos faleceu da vida presente … foi sepultada no cemitério da mesma Santa Casa … aos oito dias do mês de Maio de Mil e Setecentos e Cincoenta e Um”.
Mas voltemos ao caminho da Barca do Lago.


[1] - Segundo estudos realizados pela Prof.ª Dr. Helena Granja (GRANJA, Helena Maria L.P. – Repensar a Geodinâmica da Zona Costeira: O Passado e o Presente; Que Futuro? (O Minho e o Douro Litoral), Tese de Doutoramento (policopiada), Braga, 1990), ao longo da costa, ou planície litorânea, entre os rios Cávado e Neiva, e durante a Idade Média, existiam algumas lagoas em comunicação com o mar.
[2] - A.M.E. – Copiador de Ofícios. Documento de 2 de Abril de 1835.
[3] - Entre elas queremos destacar a “Peregrinatio Hispanica” – 1531-1533, de Claude de Bonserval, tratada pelo historiador António Cruz em “Tempos e Caminhos: Estudos de História”, Porto, 1973.
[4] - ABREU, Alberto Antunes de (1993) – Caminhos de Santiago no Entre Douro e Minho, Viana do Castelo.
[5] - PEIXOTO, António Maranhão (1985) – A Inscrição de 862 de Castelo do Neiva: Estudo histórico-filológico, Esposende.
[6] - Os almocreves tinham como profissão o transporte por terra, das mercadorias. Tiveram grande importância desde o Conde D. Henrique até meados do século XIX.
[7] - MORENO, Humberto Baquero (1997) – A acção dos Almocreves no desenvolvimento das comunicações inter-regionais portuguesas nos finais da Idade Média, Ed. Brasília Editora, Porto.
[8] - RIU, Manuel (1959) – La vida, los costumbres y el amor en la Edad Média, Barcelona.
[9] - MORENO, Humberto Baquero (1992) – As peregrinações a Santiago e as relações entre o Norte de Portugal e a Galiza, in”Actas do I Congresso Internacional dos Caminhos Portugueses de Santiago de Compostela”, Ed. Távola Redonda, Lisboa.
[10] - FILGUEIRAS, Octávio Lixa (1992) – Barcos para Santiago – Reflexões, in “Actas do I Congresso Internacional dos Caminhos Portugueses de Santiago de Compostela”, Ed. Távola Redonda, Lisboa.
[11] - PEREIRA, Paulo (2004) – Paraísos Perdidos e Terras Prometidas, Ed. Círculo dos Leitores.
[12] - MATTOSO, José; FALCÃO, José António, FERREIRA, Jorge M. Rodrigues (1985) – A propriedade eclesiástica no litoral nortenho (1220-1258): Contribuição para o seu estudo, Póvoa de Varzim.
[13] - ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – As vias medievais de Entre Douro e Minho (Tese de Doutoramento policopiada)
[14] - S. PEDRO DE RATES (26 de Abril). Era de origem peninsular e terá sido discípulo dilecto de S. Tiago, o Maior, que fez dele o primeiro bispo de Braga. Pensa-se ter sido este a fundar o título de “Primaz das Espanhas”, usado ainda hoje. Deve-se a ele a fundação da igreja de Rates e daí terá feito um trabalho de apostolado de grande relevância durante os seus treze anos de acção. Segundo a tradição, Pedro de Rates terá sido assassinado, no tempo de Nero, pelos romanos invasores, juntamente com muitos fiéis que se reuniram no templozinho de Rates. O seu discípulo e seguidor, S. Félix, eremita numa serra próxima, deu-lhe sepultura e à volta do seu túmulo ergueu-se, pouco depois, um novo templo formando-se aí uma comunidade monástica. Este convento foi destruído com as invasões árabes mas o Conde D. Henrique procedeu ao seu restauro e ainda hoje se mantém com a sua traça românica. Em 1552 os restos mortais de S. Pedro de Rates foram trasladados para a Sé Catedral de Braga.
[15] - O Cruzeiro do Enforcado ou do Galo existente no Museu de Arqueologia de Barcelos, é proveniente desta freguesia de Alvelos.
[16] - Este caminho por Barcelos foi tratado com profundidade por ALMADA, Conde de (2000) – A Caminho de Santiago: Roteiro do Peregrino, Lello Editores, Porto.
[17] - ESPERANÇA, Fr. Manuel (1656) – História Seráfica, Tomo I, Lisboa
[18] - D. Constança de Noronha era filha de D. Afonso, Conde de Gijon e de D. Isabel, senhora de Viseu (filha bastarda do Rei D. Fernando). Faleceu em 1480. Casou em 1420 com D. Pedro, 1.º Duque de Bragança e 8.º Conde de Barcelos, este em segundas núpcias. Seu sogro, D. João I (pai de D. Pedro), deu-lhe em dote algumas terras que possuía em Guimarães, mais tarde incorporadas no património da Casa de Bragança. D. Constança faleceu com fama de santidade. (Ver: TRIGUEIROS, António Júlio Limpo; FREITAS, Eugénio Andrea da Cunha e; LACERDA, Maria da Conceição Cardoso Pereira de (1998) – Barcelos Histórico Monumental e Artístico, Ed. APPACDM, Braga.)
[19] - MATOS, Manuel Cadafaz de (1985) – Os Caminhos de Santiago na área Porto-Braga-Esposende: Numa perspectiva antropológica e eco-museológica, Esposende.
[20] - AURORA, Conde de (1965) – Caminho Português para Santiago de Compostela, Braga.
    - GIL, Carlos; RODRIGUES, João – Pelos Caminhos de Santiago: Itinerários Portugueses paea Compostela, Ed. Publicações D. Quixote.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

SOLARES E QUINTAS DO CONCELHO DE ESPOSENDE


Por: Manuel Albino Penteado Neiva

II
QUINTA DE TERROSO
- Palmeira de Faro -



Fachada principal da Casa de Terroso
A Quinta de Terroso ou Cimo de Vila - foi também conhecida por Casa de Mareces. Esta última designação advém do facto da família que a edificou, ou reedificou, ser oriunda do lugar de Mareces, Freguesia de Vila Cova - Barcelos.
O arquivo particular da Quinta de Terroso é um interessante somatório de documentos - na sua maioria transmitindo registos de família, tipo árvore genealógica, e da própria mobilidade fundiária de família[1].
Poder-se-à dizer que o Rev. Padre Francisco Gonçalves, nascido por volta de 1590[2], fundador da Casa da Capela, em Vila Cova, terá sido um dos ascendentes da família que instituiu a Quinta de Terroso.
Este sacerdote terá, por volta de 1616-1618, comprado um conjunto de propriedades localizadas no lugar de Terroso em Palmeira de Faro. Curiosamente, e segundo a opinião e o estudo atento de Silvestre Matos Costa, o P.e Francisco Gonçalves, teve um filho, de nome João Linhares, cuja mãe era natural de Fão, chamando-se Isabel Antónia. Embora filho bastardo, o P.e Francisco solicitou a sua legitimação que, por Mercê do Rei D. Filipe III (Filipe II de Espanha), datada de 14 de Novembro de 1634[3], lhe foi concedida.
Este sacerdote veio a falecer em Mareces, Vila Cova, no dia 6 de Dezembro de 1662.
Uma sua neta, Esperança de Linhares, casou, por volta de 1670, com Manuel Ferreira, natural da Vila de Esposende, tendo sido mãe de oito filhos. O património da família foi, entretanto, enriquecido, por volta de 1735, através de uma série de emprazamentos que Manuel Ferreira fez em Palmeira de Faro, nomeadamente o Casal de Terroso. Um dos seus filhos, Bacharel em Cânones, pela Universidade de Coimbra, residiu maior parte da sua vida na Casa de Mareces, dando grande impulso às terras que possuía em Terroso -Palmeira. Ai comprou alguns edifícios que estavam em ruína.
Sabe-se, através de documentos estudados, que os descendentes de Manuel Ferreira passaram a viver em Esposende, tendo ocupado vários cargos da governança, nomeadamente o de Escrivães da Câmara e o de Juízes dos Órfãos.
Um dos seus familiares, de nome Caetano José, nascido em 1729, e oriundo de parentes naturais de Deocriste, ordenou-se Padre e veio, durante 43 anos, paroquiar Palmeira de Faro. Aí morreu em 22 de Julho de 1797. Com ele vieram residir para Palmeira, vários familiares que aqui compraram casas e propriedades. Segundo Silvestre Matos Costa, um irmão deste sacerdote, de nome António José, morreu em Maio de 1809, na freguesia de Palmeira, em combate contra os franceses aquando a segunda invasão. Uma outra irmã - Rosa Maria, casou, em 16 de Fevereiro de 1789, com António José dos Santos Portela, nascido em Gemeses.
António José – que ficará conhecido por “Capitão de Mareces” , ocupou funções nas Milícias da 5ª Companhia do Regimento de Barcelos. Faleceu em 23 de Dezembro de 1831 e sua esposa Rosa Maria viera a falecer mais tarde, em 9 de Setembro de 1937. Seu filho mais velho, José Joaquim dos Santos Portela, casou com Ana Rosa Lima, da família do “Cuco” de Palmeira, e aí fixaram residência.
Em 1838 restauraram a Casa de Terroso e aí passou a residir permanentemente[4]. Foi desta forma que a Casa e Quinta de Terroso também se passou a designar por Casa de Mareces.
Em 3 de Agosto de 1814, José Joaquim Santos Portela, é nomeado Alferes numa das Companhias do Regimento de Milícias de Barcelos[5].
O herdeiro da Casa de Terroso foi o seu filho João Vitorino, casado com Ana Joaquina Barbosa, proprietária da Casa das Eiras, em Gemeses. Um dos seus filhos, Bernardino dos Santos Portela, ordenou-se Padre, tendo sido Reitor durante alguns anos de Apúlia, foi o herdeiro da Quinta de Terroso onde passou o resto da sua vida. É este sacerdote quem manda construir a Capela, precisamente ao lado da Casa, que é benzida em 1902. Dedica-a a Nossa Senhora de Lurdes. Este Sacerdote sempre denotou ser uma pessoa devotada aos aspectos culturais e como prova disso, e também para Memorial do Convento, levantou em frente à sua Quinta um conjunto de elementos românicos que vieram do extinto e degradado Mosteiro de Banho de Vila Cova[6]. É Autor de uma interessante Monografia sobre este mesmo Mosteiro[7].
Na padieira do portão de entrada, lateral norte da casa, mandou pintar em azulejos a seguinte inscrição: “ ECCE ELONGAVI. FUGIENS. ET. MANSI. IN. SOLIDUTINE. “
Memória do românico do Mosteiro de Banho
Ainda sobre o Mosteiro de Banho, o Rev. P.e Bernardino, pediu, em 14 de Junho de 1927, ao seu primo Albino Cândido Alves de Matos, de Vila Cova, que lhe facultasse a documentação sobre este monumento românico. Tal foi-lhe concedida, não nos tendo sido possível indagar sobre o seu paradeiro final.
O Padre Bernardino dos Santos Portela faleceu, nesta Casa de Terroso, em 5 de Janeiro de 1941.
Tomou posse da Casa de Terroso, João Martins Gomes dos Santos, falecido em Janeiro de 1986, tendo sido, por sua morte, herdada por José Filipe Pinheiro Gomes dos Santos.
Em 1994, por compra, quebrando-se um vínculo de família mais que secular, passou para a posse de Alberto Queiroga Figueiredo[8], industrial, natural de Apúlia.


[1] - A ocupação do solo onde se situa a Quinta de Terroso, é uma constante que vem já desde, pelo menos há 5000 anos. Aí se construiu uma monumental sepultura dolménica, recentemente estudada pelo Grupo de Arqueologia do Norte, chefiado pelo investigador Eduardo Jorge, Professor da Universidade Portucalense. Das escavações resultaram vários objectos de grande interesse científico, entre os quais um esteio possuindo pinturas rupestres, a branco, representando um animal da família dos cervídeos.
Também durante a época romana aí se sepultaram alguns íncolas, em sepulturas construídas à base de ardósia. Por volta de 1940, algumas delas foram postas a descoberto, tendo sido retirados alguns vasos de incineração que, segundo informações, terão sido levados para Lisboa.
Mais tarde, estas terras foram demarcadas pela poderosa Casa de Bragança. Na parte Norte da Quinta ainda se pode encontrar um dos marcos desta senhorial casa, aí colocado a mando de D. Jaime, Duque de Bragança.
[2] - Silvestre Matos Costa - Famílias da Casa da Capela: Vila Cova, Barcelos.
[3] - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - Chancelaria de D. Filipe III - Legitimações, Livro 22.
[4] - Teotónio da Fonseca - Esposende e o seu Concelho, Esposende, 1936.
[5] - A.H.M. - 3º Div., 39º Sec. Cx. 22, Doc. Nº 38
[6]- J. Mancelos Sampaio e Augusto Soucassaux - Barcelos: Resenha Histórica-Pitoresca-Artística, Barcelos, 1927
[7] - Este trabalho foi publicado no Jornal “Diário do Minho”.
[8] - Alberto Queiroga Figueiredo foi Presidente da Câmara Municipal de Esposende, Deputado na Assembleia da República e Presidente da Assembleia Municipal de Esposende.